Por Cláudio Fernandes
O clube que a torcida se intitula “Nação” tem um mundo próprio para realizar uma viagem no tempo e recordar a própria história. Lá, cabe a emoção de cada um dos mais de 50 milhões de torcedores. Estamos falando do Museu Flamengo. E a se julgar pela reação dos que o visitam, os troféus, medalhas e demais itens ganham ainda mais importância a cada olhar marejado, foto, vídeo e, claro, suspiro.
Se fosse possível, o museu cresceria fisicamente a cada visita. Aumentaria de tamanho, tendo como combustível o amor de cada rubro-negro que passa por lá. Se isso não acontece de fato, uma evidência, contudo, é inegável. Todo torcedor sai dele mais apaixonado e orgulhoso.
Para entender a razão disso tudo, como o projeto foi concebido e consolidado, a Tribuna da Imprensa conversou de maneira exclusiva com Luís Fernando Fadigas, vice-presidente de Patrimônio Histórico do clube. Sua história como rubro-negro e a difícil missão de substituir um amigo no comando do projeto são o tom do quanto essa jóia, que fica logo na entrada da sede do clube, foi, é e sempre tratada com imenso carinho.
Aliás, com Raça, Amor e Paixão.
Confira abaixo
Luís Fernando Fadigas e o Flamengo
Minha história com o Flamengo começou desde que eu nasci. Meu pai era sócio do clube desde 1965. Um pouco mais velho, trabalhando, me afastei um pouco. Depois me aproximei novamente. De 2015 pra cá que me aposentei e pude me dedicar mais. Um grande amigo, Roberto Diniz, me chamou. Ele era vice-presidente de patrimônio histórico. Com mais tempo livre, pude vir participar e ele acabou me convidando para ser diretor de patrimônio histórico.
Juntos começamos a construir o departamento e o museu em sequência. Infelizmente ele pegou Covid e faleceu no meio desse processo. Com isso, o presidente Rodolfo Landim me convidou para ocupar o cargo.
Em homenagem ao meu amigo, o nome do museu é Roberto Diniz.
O sonho não realizado
Nunca imaginei estar na posição de vice-presidente. Quando era criança meu sonho era ser gandula, pra ficar perto dos jogadores.
Mas nunca consegui. Hoje em dia posso entrar no campo e tudo mais. Esse tipo de acesso me deixa muito feliz. Poder conhecer o Zico, conversar com ele. Fizemos bolo de aniversário quando ele veio aqui em 2023. Até brinquei que ‘estava cansado de encontrá-lo’.
O Adílio vem sempre aqui. Esse pessoal que a gente idolatrava agora são nossos amigos. Como torcedor a gente fica feliz de ver as pessoas que vem de fora, pessoas choram, etc.
Mostrar troféu todo mundo mostra. O objetivo desse museu é a imersão na emoção, o cara lembrar que estava naquele jogo, etc.
Realizar o sonho da Nação toda foi muito legal. Ser responsável pelo projeto é uma responsabilidade grande e felizmente deu certo.
Estruturação da pasta
A princípio era um setor pequeno, tinha quatro funcionários. Estruturamos o setor fisicamente. Agora temos laboratório de museologia, três reservas técnicas, sala de reunião, documentação, administração. Isso deu base para formatar e estruturar o setor. Hoje está muito bem consolidado.
A formatação do Museu
Antes de mais nada, a conversa com a empresa MUDE, que fez o museu e o gerencia, começou há seis anos. Eles fizeram os museus da Conmebol, do Boca Juniors e do River Plate. Na Europa, o do Benfica e da Juventus.
O projeto demorou, modificou e, afinal, inauguramos em agosto de 2023. É muito difícil fazer um museu. Aqui temos 400 troféus e temos oito mil guardados. É um trabalho muito grande registrar tudo, separar.
Muitas outras gestões tentaram. Não posso dizer que não conseguiram por falta de competência, disso ou daquilo. Mas a gestão Landim conseguiu fazer.
O Museu Digital
A idéia é inaugurar ainda em março. Queremos multiplicar as informações. Curiosidades como, por exemplo, quantos gols o Zico fez contra o Vasco? Quem gosta de estatística, detalhes, vai ficar o dia todo lá dentro. Teremos alguma coisa de Inteligência Artificial também.
Outra atração prevista é uma visita virtual ao Ninho do Urubu. Por exemplo, por uma câmera, o torcedor vai poder conhecer as dependências, vestiários, etc.
Visitação
Até dezembro, mais de 50 mil nesses primeiros meses. A visitação é variada. Por exemplo, antes do carnaval estava bem cheio. Agora menos. Há uma sazonalidade que é natural de visitação de turista. Além disso, se ganha um jogo dia seguinte aumenta, se não, diminui.
A receita é dentro do que era esperado. Como o museu foi financiado, não há uma preocupação exacerbada de recuperação de investimento. A nossa preocupação é ter um museu sempre moderno.
Patamar em relação a demais museus
O nosso está em um patamar mais moderno do que os da América do Sul. Só para exemplificar, é mais novo, mais moderno, mais tecnológico, mais interativo. Em relação aos europeus está no mesmo nível. O nosso é um pouco menor, o que no meu ponto de vista acho mais agradável, não cansa a pessoa na visita. Tem gente que quer ver tudo, fica ali três horas.
Temos um tamanho de 1000 m², que acho bem razoável. O nosso “problema” é que é não fica dentro de um estádio. Os outros que citei estão. Então a atração do torcedor ir também ao campo de jogo é uma grande atração.
O futuro
Faremos uma ampliação, um segundo andar com mais áreas temáticas, tanto em tamanho quanto em diversidade. Há também, em resumo, o museu digital que está prestes a sair.
E vamos, de forma mais constante, reforçar outra coisa que fazemos, que é o museu itinerante. Atualmente levamos dois, três troféus às embaixadas. Aconteceu recentemente nestes jogos no Nordeste. Junta 20 mil pessoas para tirar foto, é uma loucura.
Queremos pensar em levar mais coisas. Talvez em um ônibus, van, ainda não formatamos. Antes de tudo a ideia é levar o Flamengo a diversas cidades.
Por fim, quero ressaltar que a gestão Landim foi responsável por impulsionar esse desejo de todos nós. Ele nos deixou trabalhar à vontade. Desse modo, com o apoio dele, do CEO e da diretoria, fizemos um bom trabalho graças a esse apoio.
Ademais, temos uma meninada jovem que capacitamos. Chegaram como estagiários e hoje podem até trabalhar em outros lugares. Não que a gente queira que saia, mas todos estão capacitados para a vida. Isso inegavelmente nos deixa muito feliz.
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