Prefeitura e trade turístico projetam a criação e promoção de uma identidade gastronômica carioca como atrativo de turistas internacionais
Porta de entrada do turismo nacional, a cidade do Rio de Janeiro arrecadou R$ 238 milhões em impostos (ISS), em 2023, com a vinda de turistas nacionais e estrangeiros, segundo o estudo “Rio: A Capital da Gastronomia Sustentável da América Latina”, elaborado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE), que projeta um incremento de até R$ 357 milhões nos próximo 10 anos, se a cidade investir na construção de uma identidade gastronômica atrelada ao turismo. Pelo levantamento, o turismo gastronômico tem o potencial de atrair 2 milhões de visitantes estrangeiros em uma década.
O secretário em exercício da SMDUE, Thiago Dias, destacou que, atualmente, o Rio de Janeiro reúne todas as qualidades para ser também um polo de turismo gastronômico no mesmo nível de outras capitais internacionais.
“O Rio vem se preparando para receber a cada ano mais turistas. Nós trabalhamos para fortalecer o aeroporto internacional do Galeão por meio de política pública, incentivamos a movimentação da economia e vemos a retomada da construção de hotéis na cidade, estamos revitalizando o Centro e criando um polo turístico, a Rua da Cerveja. São muitas iniciativas, e o fortalecimento nesse momento do turismo gastronômico na cidade só ajuda a consolidar a vocação do Rio, que tem sua economia fortemente ancorada na oferta de serviços”, comentou o secretário.
Depois de todas as mudanças realizadas no setor, a administração municipal e o trade turístico carioca estão concentradas na promoção do turismo gastronômico, segundo a secretária municipal de Turismo, Daniela Maia que, entre 2023 e 2024, trouxe para o Rio, as mais importantes premiações internacionais do segmento: o Guia Michelin e o 50 Best América Latina.
“Valorizar nossas riquezas culturais é preservar o patrimônio, material e imaterial. Somos uma cidade plural e a nossa gastronomia traduz essa diversidade. É com essa mentalidade que venho direcionando o nosso trabalho de dar forma a um Rio de Janeiro como destino gastronômico, tanto doméstico, quanto internacional”, afirmou Daniela Maia, acrescentando que o incentivo à mídia especializada também compõe a estratégia para a promoção da vertente turística. A secretária fez questão de destacar a atividades desenvolvidas pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que atua para valorização da gastronomia pelo trade turístico.
As ações da sua pasta e do trade turístico, segundo Daniela Maia, estão sintonia com a diretriz da ONU Turismo de apoiar iniciativas sustentáveis, além de incentivar nichos, como festivais de Comida Preta, Comida de Favela, e outros relacionados à segurança alimentar e o combate à fome.
De acordo com a pesquisa, o turismo de gastronomia conta com a vantagem de atrair turistas internacionais e de outras regiões do Brasil, valorizando a identidade cultural da cidade e reforçando a posição capital fluminense como destino global.
Para Cristiana Beltrão, fundadora do Instituto Bazzar, ter especial atenção quanto aos cuidados com a sustentabilidade é um importante fator para atrair viajantes gourmets globais.
“De acordo com todas as pesquisas do segmento, identidade e sustentabilidade são fundamentais na atratividade turística. Depois da acertada iniciativa da Prefeitura de sediar prêmios como o Guia Michelin e o Latin America’s 50Best Restaurants, o novo desafio é ter uma identidade gastronômica definida, capaz de atrair o viajante gourmet, além de se posicionar sobre a premente questão ambiental”, pontuou a empresária, que citou como exemplo a cidade de Londres que, em 2005, tinha uma péssima reputação como destino gastronômico, e hoje é a 5ª mais atraente no quesito, segundo o ranking World’s Best Cities. A capital britânica tornou-se ainda a terceira cidade com maior número de estrelas Michelin no mundo.
“Esse foi um trabalho estratégico construído, sobretudo, pelo Governo Britânico. Lima, capital do Peru, também investiu bastante na construção de sua imagem e hoje tem um fluxo de turistas maior do que o Rio de Janeiro”, complementou Cristiana Beltrão, enfatizando que Instituto Bazzar quer contribuir para a formação dessa identidade gastronômica carioca, e com a criação de pontes entre produtores, pescadores e chefs em uma cadeia alimentar mais sustentável no Rio de Janeiro.
Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do CAGED, o setor de bares e restaurantes é um dos grandes empregadores do município, concentrando mais de 67 mil trabalhadores, quase 80% deles atuando em micro e pequenas empresas. Entre 2021 e 2024 (até agosto), o setor gerou 16,1 mil postos de trabalho, o que demonstra a relevância da gastronomia na geração de empregos e no fortalecimento da economia local.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Rio de Janeiro conta com 4,2 mil bares e restaurantes; sendo 96,7% deles micro ou pequena empresas. As unidades comerciais estão, principalmente, na Zona Sul, Grande Tijuca e Barra da Tijuca, concentrando 60% dos estabelecimentos e dos trabalhadores. No levantamento por bairros, os comércios estão assim distribuídos: (12,3%), Centro (11,2%), Copacabana (7,1%), Botafogo (5,2%) e Tijuca (3,6%) são os cinco bairros com mais estabelecimentos, quase 40%.
Para a próxima década, a Prefeitura do Rio prevê a realização de eventos gastronômicos internacionais, como o Latin America’s 50 Best Restaurants, e a inclusão de mais restaurantes cariocas no Guia Michelin. A capital fluminense já conta com seis, sendo três deles com duas estrelas.
“O Instituto Bazzar sugere iniciativas que fizeram sucesso em outros países e podem fazer toda a diferença no estado do Rio. Entre elas, a desburocratização da entrada de produtos de excelência do interior do Estado do Rio para a capital”, adiantou Cristiana.
Em termos potenciais, o mercado global de turismo gastronômico tem um faturamento avaliado em U$ 805 bilhões. Diante de uma realidade tão animadora, o Rio de Janeiro tem uma oportunidade de transformar sua identidade culinária em um dos principais ativos de desenvolvimento econômico nos próximos anos.
A elaboração da pesquisa também contou com participação da Secretaria Municipal de Turismo (SMTUR-Rio) e do Instituto Bazzar, entidade independente e colaborativa com governos e inciativa privada no fomento ao turismo gastronômico fluminense.