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quarta-feira, 4 dez, 2024

Política

Trump X Kamala: intensidade marca primeiro, e talvez único, debate entre os candidatos da corrida presidencial americana

Debate de 90 minutos foi acirrado e mostrou Kamala confiante

 

Donald Trump e Kamala Harris participaram do primeiro debate para a presidência dos Estados Unidos na noite desta terça-feira (10), realizado pela ABC News. Foi a primeira vez – e possivelmente única – que o republicano e a democrata se encontraram pessoalmente. Antes do início da transmissão, eles apertaram as mãos, num momento crucial da corrida pela Casa Branca, a 56 dias das eleições, que estão marcadas para o dia 5 de novembro. 

 

Com duração de 90 minutos, os candidatos tiveram dois minutos para responder às perguntas durante o debate, além de outros dois minutos para apresentar suas refutações. Além disso, cada um recebeu um minuto extra para esclarecer pontos ou complementar algo. Já os microfones eram ativados somente durante as falas dos candidatos, sendo possível notar expressões faciais de desacordo sempre que o adversário se pronunciava.

 

As acusações de desonestidade vieram de ambos os lados, mas Donald Trump protagonizou algumas alegações mais controversas, sendo corrigido pelos mediadores em diversas ocasiões. Diferentemente do primeiro debate entre Joe Biden e Trump, Kamala Harris se mostrou firme e assertiva, levando Trump a adotar uma postura defensiva em vários momentos.

 

A seguir, confira pontos dos principais temas discutidos:

 

Economia e Inflação

Afirmando ser de classe média, Kamala Harris disse conhecer as dificuldades e aspirações dos trabalhadores americanos em busca de oportunidades. Seu plano econômico irá se concentrar na isenção de impostos para a compra de residências e na concessão de benefícios fiscais para pequenos negócios. A candidata democrata acusou Donald Trump de ter deixado o país com a pior taxa de desemprego desde a Grande Depressão, criticando seu plano econômico, que teria se limitado a cortes de impostos de mais de US$ 5 trilhões destinados aos bilionários. 

 

Por outro lado, Trump defendeu os cortes de impostos, afirmando que seriam compensados pelo fortalecimento da indústria e criação de empregos, alcançados por meio da imposição de tarifas a outros países, como fez com a China. Ele alegou que a inflação sob a administração Biden foi a pior da história dos Estados Unidos e prometeu aumentar as tarifas para reduzir a inflação.

 

Quando questionada pelo mediador sobre o motivo de a administração de Biden ter mantido as tarifas impostas por Trump, Kamala respondeu que o governo limitou o acesso da China a chips avançados, ao contrário de Trump que, segundo ela, não protegeu os interesses americanos ao vender chips para o país e elogiar publicamente o líder chinês Xi Jinping durante a pandemia global.

 

Criminalidade e Política Externa

Ambos os candidatos expressaram apoio a Israel e ressaltaram a necessidade urgente de encerrar o conflito com a Palestina. Kamala Harris defendeu as políticas da administração Biden, pedindo um cessar-fogo e sendo enfática sobre o sofrimento palestino. Ela destacou sua preocupação com a escala da crise humanitária em Gaza e reafirmou seu apoio à Solução de Dois Estados, onde palestinos e israelenses viveriam em paz em seus respectivos estados. Já Trump não mencionou a necessidade de um cessar-fogo e criticou a resposta da administração Biden-Harris. Ele acusou Kamala de ter recusado um encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para comparecer a um evento em sua universidade.

 

Sobre a guerra na Ucrânia, Trump afirmou que seria do interesse dos EUA encerrar o conflito rapidamente e garantiu que o faria em 24 horas, caso fosse eleito. Ele mencionou seu bom relacionamento com os presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, se oferecendo como mediador para um acordo de paz entre os dois.

 

Kamala argumentou que Trump não seria capaz de resolver o conflito entre Rússia e Ucrânia por falta de credibilidade entre os aliados da OTAN que, segundo ela, estão aliviados por ele não estar mais no cargo. Ela afirmou que, se Trump tivesse sido reeleito, Putin já estaria em Kiev, com planos de expandir suas ambições para o resto da Europa.

 

Mudanças Climáticas

Kamala Harris criticou Trump por ter chamado a mudança climática

de uma “farsa”, ressaltando que é algo “muito real”, representando perigos físicos para os americanos, além de gerar custos financeiros. Ela destacou os investimentos da administração Biden em energia renovável, assim como a produção doméstica recorde de gás.

Sobre o ponto específico do gás, justificou sua mudança de posição

em relação à proibição do fraturamento hidráulico (fracking), para

extração de gás e petróleo de rochas de xisto, dizendo estar

confiante de que as metas climáticas dos EUA poderiam ser

alcançadas sem essa proibição.

 

O candidato republicano criticou a mudança de posição da candidata,

que seria contra a exploração de gás natural nos últimos 12 anos, e

reiterou seu compromisso para expandir a exploração de petróleo e

gás natural. Trump ignorou a pergunta sobre mudanças climáticas e não

apresentou nenhuma medida para enfrentar o problema. Ele criticou

a entrada de carros elétricos no país, afirmando que iria impor tarifas

severas sobre alguns veículos importados para evitar que novas

fábricas sejam abertas na China, ao invés dos Estados Unidos.

 

Imigração

Donald Trump criticou duramente a política de imigração do governo

Biden alegando que, enquanto os índices de criminalidade estão

caindo no mundo, nos Estados Unidos eles aumentam devido ao

“crime migrante”. Ele chegou a afirmar que imigrantes estariam

comendo cachorros e gatos em Springfield, Ohio, e comparou a

cidade a uma Venezuela, o que foi prontamente desmentido pelo

mediador do debate.

 

Em resposta, Kamala Harris adotou um tom combativo e afirmou que

Trump não teria moral para falar de criminalidade, mencionando as

diversas acusações criminais que ele enfrenta, incluindo uma

audiência marcada para prestar contas à Justiça.

 

Trump rebateu, alegando ser vítima de perseguição

política, com acusações fabricadas pelo Departamento de Justiça

(DOJ). Ele também criticou o tratamento dado a Biden, acusando o

atual presidente de enfrentar questões semelhantes relacionadas ao

manuseio de documentos confidenciais, mas com uma postura mais

indulgente por parte do sistema judicial.

 

Saúde

Trump foi questionado sobre sua posição em relação ao Affordable

Care Act (Lei de Cuidados Acessíveis) e sobre o que faria sobre isso,

caso fosse reeleito. Ele afirmou que está considerando várias opções

e que só promoveria mudanças se surgisse uma alternativa melhor e

mais econômica.

 

A candidata democrata, Kamala Harris lembrou de que Trump tentou revogar o Affordable Care Act mais de 60 vezes durante seu período no Senado e reafirmou seu compromisso com a lei. Ela destacou melhorias recentes, como o limite de US$ 35 para o preço da insulina para beneficiários do Medicare, estabelecido pela administração Biden, e o limite de US$ 2.000 para gastos com medicamentos prescritos, que entrará em vigor para os beneficiários do Medicare em 2025.

 

Harris também foi questionada sobre seu apoio anterior à proposta

do senador Bernie Sanders, que visava acabar com os seguros

privados e criar um sistema de saúde financiado pelo governo. Ela

respondeu que alternativas à saúde privada que beneficiem a

população são positivas e receberam seu apoio durante seu tempo

como Vice-Presidente.

 

Aborto

Harris criticou Trump de forma contundente sobre os direitos ao

aborto, enfatizando a importância de garantir às mulheres o direito de

decidir sobre seus próprios corpos. Ela defendeu o acesso ao aborto

como um direito fundamental, mas também chamou atenção para as

leis estaduais, que têm dificultado o atendimento médico emergencial.

A Vice-Presidente também ressaltou o drama das mulheres que precisam viajar para outros estados em busca de abortos, enfrentando

dificuldades financeiras e emocionais para acessar um serviço essencial

de saúde.

 

Por outro lado, Trump assumiu o crédito pela decisão da Suprema Corte

que devolveu a questão do aborto aos estados, celebrando a

derrubada do caso Roe v. Wade como uma vitória. Ele afirmou ser

favorável a exceções para casos de estupro, incesto e risco à vida da

mãe, embora tenha evitado responder diretamente sobre apoiar ou

vetar uma proibição nacional do aborto. Além disso, Trump repetiu alegações infundadas de que os democratas, incluindo Tim Walz, candidato democrata à vice-presidência, apoiam o “assassinato de bebês após o parto”. Essas alegações foram imediatamente refutadas pela moderadora, que esclareceu que tais práticas são ilegais em todos os estados dos EUA.