*Por Raquel Machado
O sucesso é o estado mais desejado do ser humano. Seja sucesso na saúde física, seja na estética, na saúde mental, na vida financeira, na vida amorosa, na familiar… Queremos sucesso em algumas dessas áreas ou em todas.
Não podemos negar que sucesso é sucesso. Ou você tem ou não tem. O que é relativo é a régua que você usa pra medir a distância que falta pra sua linha de chegada.
Tal qual uma maratona, somos convidados pela vida a nos tornar atletas do nosso desenvolvimento.
Sucesso estético pra uma pessoa pode ser se parecer com a Barbie. Para outra, perder dez quilos. Sucesso em saúde mental para uma pessoa pode ser mudar toda uma vida e ir viver com monges no Tibet. Para outra, ter a terapia em dia. Sucesso financeiro para uma pessoa pode ser comprar uma casa simples na roça. Para outra, ter um apartamento de frente para o Central Park.
E de onde tiramos nossas percepções de linha de chegada? Com certeza vem de toda uma influência familiar e social.
A profissão que escolhemos e a vida que queremos ter, tem a ver com a forma como fomos criados, com nossas experiências pessoais e com as conexões de felicidade e sucesso que fizemos e foram anexadas dentro do nosso inconsciente.
Uma vez tive um paciente que cresceu em uma comunidade, morou em barraco de madeira e tinha como referência de sucesso financeiro os traficantes do local. Um dia, aos sete anos, pela primeira vez ele desceu do morro pra brincar numa praça. Minutos depois, estacionou um carro vermelho lindíssimo ao lado dele, desceu de dentro um homem bonito e muito bem arrumado, ele disse que lembrava até do cheiro do perfume desse homem. Ele ficou tão impressionado que perguntou para o rapaz: “Como você conseguiu ter um carro desse e ter um cheiro tão bom?”
O rapaz deu um risada gentil e respondeu: “Eu estudei e conquistei tudo isso pelos estudos. Você também consegue”.
Esse meu paciente me contava com lágrimas nos olhos que aquele homem não sabia, mas tinha mudado a vida dele. Ele começou a se dedicar aos estudos com muito afinco, entendeu que nos livros estavam a sua liberdade e realização, e aos dezoito anos já estagiava numa grande empresa. Saiu da comunidade, alugou uma casa pra ele e sua família.
Aos vinte e oito anos se tornou procurador da república. Sabe qual foi a cor do primeiro carro dele? Vermelha, exatamente. E nem preciso dizer que foi o paciente mais cheiroso que eu ja tive.
Compreendem que a forma como ele desenvolveu a vida dele foi toda baseada em experiências pessoais das conexões que ele fez de realização e felicidade?
Mas nem sempre tudo são flores.
Uma vez atendi uma paciente que estava há nove anos cursando direito, era depressiva, ansiosa e já estava com crises de pânico e tinha medo de ser jubilada da faculdade. Se sentia burra por perder tantos semestres e estava com a autoestima abalada.
Ao longo do tempo percebi que o sonho de direito não era dela, mas do seu pai, que não tinha nem o ensino médio e era carpinteiro. Sua mãe, dona de casa, nunca havia trabalhado e achava lindo ter uma filha doutora. Ou seja, ela fez a conexão de sucesso com o curso de direito, mas ela odiava. Sempre quis ser fisioterapeuta, mas era uma profissão instável e não muito glamurosa para seus pais e ela queria dar orgulho.
Quando ela compreendeu que não era burra, só estava no lugar errado, conseguiu tomar as decisões assertivas para a própria vida e venceu a percepção de que estava “velha” demais para ter novos sonhos.
Para você ter a real noção de qual é o seu sucesso, primeiro tem que saber quem você é. Pois é muito fácil nos tornarmos a extensão frustrada da vida de alguém ou uma projeção falha de dores mal interpretadas e resolvidas.
Sucesso não é ganhar a maratona, é passar pela linha de chegada.
*Raquel Machado é psicanalista, mãe do Felipe e escritora nas horas vagas. Palestrante, M.A. em Neurociência, Analista Didata e uma entusiasta do comportamento humano.
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