Da Agência Reuters
Caminhoneiros favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PL) interromperam ou prejudicaram o fluxo de veículos em algumas rodovias do país, nesta segunda-feira, para contestar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial. Participantes dos protestos questionam a derrota de Bolsonaro e pedem intervenção militar, à medida que o presidente permanece em completo silêncio e sem reconhecer o resultado da votação.
O movimento desta segunda-feira guarda certa semelhança com tentativas anteriores de greves nacionais da categoria, mas com sinais trocados. Nos últimos anos, grupos mais vinculados ao governo de Bolsonaro rechaçavam as tentativas de greves de motoristas insatisfeitos com os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis promovidos pela Petrobras. Agora, são estes grupos ligados ao presidente que tentam emplacar uma paralisação.
As paralisações foram iniciadas na noite de domingo, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) oficializar a vitória de Lula. A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) incentivou a manifestação dos caminhoneiros em uma postagem no Twitter durante a madrugada. “Parabéns, caminhoneiros. Permaneçam, não esmoreçam”, afirmou.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que os bloqueios são eminentemente políticos e não apresentam reivindicações econômicas, e estariam causando prejuízos para o Brasil.
“Quem preside o Brasil nesse momento é Jair Messias Bolsonaro. A responsabilidade é dele e dos órgãos que ele governa, então ele tem que resolver isso para não prejudicar a população”, afirmou a deputada em entrevista coletiva.
PARALISAÇÕES
As manifestações eram maiores no Mato Grosso e Santa Catarina, segundo informações de caminhoneiros e das concessionárias que administram rodovias nos dois Estados.
Manifestantes atearam fogo a pneus em trechos da BR-163 no Mato Grosso. A rodovia é uma importante rota de transporte para produtos do agronegócio do Mato Grosso em direção aos portos do Arco Norte, como o de Miritituba, em Itaituba, no Pará.
Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), os protestos são espontâneos e não têm organização de entidades agropecuárias.
O diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti Dahmer, disse que se trata de uma “ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos de não aceitação do resultado das urnas”. A entidade havia promovido anteriormente chamados de greve contra os preços dos combustíveis.
Segundo Dahmer, a pauta permanente dos caminhoneiros “não é política, mas econômica”, o que inclui reivindicações como consolidação da tabela de pisos mínimos de fretes e redução dos preços dos combustíveis. Procurada, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que tem diálogo mais próximo com o governo de Bolsonaro, afirmou que vai se reunir para avaliar a situação.
A CNTA divulgou balanço às 9h informando 19 pontos de interdições em rodovias no país, dos quais 6 no Mato Grosso, 6 em Santa Catarina, 2 no Rio Grande do Sul, 2 no Paraná, 1 em Minas Gerais e 1 no Rio de Janeiro.
A concessionária Rota do Oeste, que administra a BR-163 no Mato Grosso, confirmou em balanço das 8h50 o fechamento nos seguintes pontos: Nova Mutum, na altura dos kms 594 e 602; Lucas do Rio Verde, no km 691; Sorriso, km 746; e Sinop, no km 835. A empresa também citou bloqueio da BR-364 no km 395 e da Rodovia dos Imigrantes, Trevo do Lagarto km 524 da BR-070.
Segundo a Rota do Oeste, também houve bloqueio em Rondonópolis na altura do km 119, mas a via foi posteriormente liberada.
Em Santa Catarina, a concessionária Arteris, que administra trecho da BR-101 no Estado, informou bloqueio total nos dois sentidos, no km 5, de Garuva. A empresa também citou interrupção no km 116, em Itajaí; no km 24,5, em Joinville; e no km 216, em Palhoça. A Arteris também citou “bloqueio total” no km 7 da BR-116, na cidade de Mafra (SC).
Na Via Dutra, um protesto impedia o fluxo em ambos os sentidos em trecho próximo a Barra Mansa (RJ), segundo boletim às 9h19 da concessionária da rodovia, a CCR RioSP, da CCR. As manifestações geravam cerca de 26 quilômetros de lentidão ao todo e foi implantada uma operação de contingência no km 303 da pista sentido Rio de Janeiro para desvio de tráfego, segundo a concessionária.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirmou por volta das 10h que foram registradas situações de “bloqueio/aglomeração” em 12 Estados, incluindo o Distrito Federal, com 70 pontos no total. A corporação, que promoveu centenas de ações na véspera para averiguação de ônibus com eleitores apesar de proibição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não citou nesta segunda-feira bloqueios de manifestantes no Nordeste.
A PRF afirmou em comunicado à imprensa no final da manhã que “acionou a Advocacia Geral da União em todos os Estados onde foram identificados pontos de bloqueio” para obter decisões da Justiça para “garantir pacificamente a manutenção da fluidez nas rodovias federais brasileiras”.
No Estado de São Paulo, a PRF citou dois focos de manifestações mais cedo nas rodovias federais BR-153 e BR-116, mas disse que os trechos já foram liberados. A Associação Brasileira dos Concessionários de Rodovias (ABCR) informou que não houve relatos de bloqueios nas rodovias concedidas em São Paulo.
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