Por Luiz Cezar Fernandes*
Nos últimos dias ganhou espaço no noticiário o fato de 20 instituições financeiras estarem desenquadradas no índice de Basiléia. O mais preocupante é a aparente tranquilidade dos executivos do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e do BC (Banco Central) em relação a esse fato. De acordo com a reportagem do Valor, o BC e o FGC relatam que as instituições financeiras estão capitalizadas, sendo que, nas grandes instituições, a inadimplência já atingiu um pico.
Diante deste dado, acredito que devo reforçar o meu artigo “Crise à vista no sistema financeiro”. Nele indiquei o crescente temor global a respeito da saúde financeira das instituições e como as autoridades monetárias deveriam começar a olhar uma linha de refinanciamento compensatório para combater os sintomas dessa crise em potencial.
Se 20 instituições financeiras nacionais estão fora do índice da Basiléia, penso que existam alguns caminhos a serem seguidos. O primeiro seria promover uma capitalização para enquadrá-las. O segundo, vender ativos, a exemplo de algumas instituições sólidas num passado recente. Uma terceira via, a mais preocupante, já é praticada pelas instituições financeiras e empresas: emissão de debêntures, como se estes títulos não fossem dívida.
Trilhando esse caminho, as empresas e as instituições financeiras estão apenas aumentando o seu passivo. A meu ver, essa medida não contribui positivamente para aplacar os riscos sinalizados.
Insisto que o BC e o FGC deveriam submetê-las a um teste de “stress”, ou seja, como elas se comportariam em um cenário de venda forçada dos seus ativos, para fazer frente ao passivo assumido, levando em consideração a taxa e prazos médios. Garanto que seria observado um grande descasamento.
A única diferença entre o teste de “stress” e o índice da Basileia é que o segundo identifica uma alavancagem excessiva, podendo as instituições continuarem tendo liquidez.
Como se sabe, as instituições financeiras não são obrigadas a colocar os seus ativos à taxa de mercado. Este fato o que ocorre com os fundos, obrigados todo mês a valorizar as suas carteiras seguindo as taxas correntes.
Seja como for, a maioria das empresas que emprestaram há cinco, dez anos, utilizaram uma taxa média de 5% aa. A SELIC por sua vez, tem se mantido em 13,75 % aa por um longo período. O descasamento é gritante.
Algumas empresas do varejo também caíram nessa armadilha, recorrendo às debêntures. Agora, grande parte delas está recorrendo à Recuperação Judicial. Hoje a Serasa evidencia bem esse quadro.
Enquanto esse teste de “stress” não for realizado, ninguém vai se convencer da solidez do nosso ecossistema financeiro.
* Luiz Cezar Fernandes é financista, co-fundador de bancos como o Garantia e o Pactual. É uma das principais referências do Mercado Financeiro e de Capitais brasileiro.
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