Por Flavio Caldegiani*
Eu preferiria não ter trazido o assunto à tona. Mas, sabe como é, vitórias a gente também conta.
Jamais imaginei, há pouco mais de dois anos, quando eu realizarei as pesquisas de forma extremamente rigorosa, não somente salvando vidas mas também mostrando como poderíamos salvar mais centenas de milhares de vidas, que eu estaria caminhando para investigações fantasiosas, com dúvidas inventadas, com o intuito inquestionável de fazer o mal.
Algo que me chocou muito foi que, com exceção dos Conselhos de Medicina, em momento algum nenhuma das investigações quis saber se vidas foram salvas. CONEP, MPF, Anvisa…nenhum deles. Ou seja, o bem mais precioso, a vida, era secundário, e a investigação supostamente focada nelas eram nada mais que um slogan com o intuito de perseguir.
Prova disso, como disse, que nenhum destes órgãos sequer chegou a ponderar ou a lembrar que no momento da pesquisa milhares de vidas eram ceifadas pela COVID-19 diariamente.
Coincidentemente, o posicionamento político era semelhante entre estes órgãos, e contrário àquele que havia elogiado a pesquisa. A politização fez muito mal à verdadeira ciência.
O seu uso para perseguir foi ainda pior.
Nos inúmeros recursos, eu sofri um processo de gaslighting intenso e constante. Ninguém lia – ou fingia ler – os argumentos óbvios. Eu parecia gritar no vácuo. Será que por que eles acabariam com a narrativa?
Para vocês terem noção, usaram meus haters como base para os pareceres.
Fizeram reunião com o propósito de ‘encontrar provas’ contra mim.
Inventaram uma história bizarra para invadirem minha casa, a fim de ‘ver se pega alguma coisa’.
Vazaram ilegalmente informações para imprensa para criar matérias fantasiosas.
Suspeitaram sabe-se-lá-do-que para pedirem para Polícia Federal analisar se os comprimidos eram de fato proxalutamida e placebo (se não eram veneno, etc).
‘Erravam’ na consulta de dados, como no caso da importação da proxalutamida, para inventar fake news contra mim. Depois vinham e diziam ‘ah, errei’ – daí já era tarde demais – e obviamente ninguém noticiava o erro.
Os argumentos mudavam magicamente à medida que quebrávamos solenemente as tentativas inacabáveis de me destruir.
A narrativa mudava constantemente. Cada hora surgia uma acusação ‘criativa’, em quase sua totalidade nunca antes utilizada pelos órgãos.
A pseudo-chance de ‘defesa’ era ampla. Amplamente ignorada.
Jogavam no lixo pareceres que aprovavam nossa pesquisa.
Divulgavam dados mentirosos e altamente difamadores, que, cujas divulgações, ainda que fossem verdade, eram inequivocadamente ilegais. E faziam a festa, o teatro, de tudo.
Isso não é nada. Os detalhes sórdidos, perversos, deixarei para outro momento.
Valeram-se da máquina pública para uma perseguição implacável, para passar o trator.
Tinham objetivos muito claros. Pouco ou nada interessava a verdade. Eles sabiam o que queriam e iriam fazer tudo o que fosse necessário, legal ou ilegal, de forma gritantemente abusiva, humilhante, ou o que fosse, para chegarem ao que queriam.
Eles já tinham as conclusões, independente das investigações, o que chamo de ‘conclusões desejadas’. Era nítido que não queriam saber da verdade, porque quando a verdade era exposta, eles fechavam os olhos ou tratavam a verdade como loucura.
Importante lembrar que tudo que eu contei nos autos e nos recursos e que não foi levado à sério pode ser considerado prevaricação. Não só de direitos e abusos vivem os órgãos. Deveres e obrigações existem – e um hora a conta chega.
E eu sempre estive tranquilo, na medida do possível, por ter a verdade em mãos. Não só continuei como mergulhei no meu trabalho, nos meus pacientes, nas atividades científicas, de atualizações e tudo mais. Eu sabia que em algum momento alguém iria me ouvir. E esse momento chegou.
Muitos pensam que os Conselhos de Medicina fizeram o caminho oposto, de proteção. Nada disso. Eles investigaram, perguntaram, demandaram respostas, documentos, evidências, provas. A única diferença é que eles escutaram, leram e entenderam porque eles não colocaram a pessoalidade como um aspecto. Como na Síndrome de Estocolmo, eu fiquei muito feliz por simplesmente serem imparciais.
Primeiro, veio a notícia do Rio Grande do Sul. Ficou claro que não somente não houve dano como também houve benefícios importantes. Isso após análise minuciosa de toda a pesquisa.
Depois, o julgamento do processo no Amazonas. Artigo por artigo do Código de Ética Médica, como deve ser. Pela primeira vez, a real chance de defesa, em que éramos ouvidos. E o resultado, unânime, sem uma dúvida sequer, conforme seria esperado para um órgão sério e honesto no sentido mais amplo da palavra. Sim, porque o protocolo e o estudo foram seguidos à risca, conforme conclusões após um dos mais profundos escrutínios que uma pesquisa médica já recebeu à luz do nosso conhecimento.
Se a humildade os permitir, os demais órgãos deveriam reavaliar suas posturas e condutas.
Por que em momento algum eles quiseram saber das vidas salvas?
Será que é tão difícil aceitar que alguém pudesse de fato estar lutando incessantemente, não somente para salvar vidas, mas também para descobrir como salva-las?
Com a permissão do ‘psicologismo’, será que isso ocorreu por que salvar vidas sem pedir nada em troca seria algo que como eles jamais fariam, eles jamais imaginariam que alguém fosse capaz?
Enquanto isso, eu também me pergunto o que teria acontecido com as vidas que se foram após o término da pesquisa se, assim que tivéssemos mostrados os resultados inquestionáveis e clinicamente dramáticos à luz de todos que participaram da pesquisa, os órgãos tivessem trabalhado no sentido exatamente oposto, de batalhar para que as centenas de milhares de vidas que se foram tivessem acesso ao medicamento, ou ao menos à classe de medicamentos, que nem por compaixão mais seria (quando a gente usa sem evidência na tentativa de salvar), mas após essa robusta demonstração de eficácia? Eu fiz a minha parte. Eu tentei.
Aprendi muito sobre os seres-humanos e o que muitos são capazes de fazer.
Só fazem aquilo que eles têm a oferecer.
Por último, nesta história, fazendo a melhor limonada suíça a partir de um baita limão azedo, conheci por outro lado muitos, muitos seres humanos maravilhosos e sensíveis o suficiente para conhecer a verdade desde o início – verdade essa que independe de questão políticas, filosóficas ou religiosas.
Fica a reflexão.
* Flavio Caldegiani é Endocrinologista Especialista, Mestre e Doutorado.
Fonte: medicospelavidacovid19.com.br