Fujimori governou o país de 1990 a 2000. Ele enfrentava vários problemas de saúde, entre eles um câncer de língua. A família não informou a causa da morte do ex-ditador
O ex-presidente e ditador peruano Alberto Fujimori morreu, nesta quarta-feira (11), aos 86 anos. Fujimori lutava contra um câncer de língua e outras doenças há muitos anos. A família não informou se o ex-ditador foi vitimado pelo câncer. Horas antes da confirmação da sua morte, Alejandro Aguinaga, médico que o acompanhava, chegou a afirmar que Alberto Fujimori lutava pela vida, e que à família deveria ser dado o direito de privacidade.
Segundo o G1, o velório de Fujimori está programado para ter início às 11h, desta quinta, no Museu da Nação, em Lima, capital peruana. O enterro será no sábado (14), no cemitério Campo Fé, em Huachipa, também em Lima.
Alberto Fujimori foi presidente do Peru durante uma década, entre 1990 e 2000, sendo considerado uma liderança controversa internamente. Entre as inúmeras ações recriminadas pela população peruana estava a aplicação de um autogolpe de Estado. Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão, dos quais cumpriu 16, por crimes contra os direitos humanos durante o seu governo.
Em dezembro 2023, uma decisão do Tribunal Constitucional do Peru libertou o ex-ditador para que ele pudesse tratar problemas de saúde, apesar da objeção da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Em 2017, o então presidente Pedro Pablo Kuczynski já havia concedido a Fujimori um indulto, que foi anulado no ano posterior.
O ex-ditador estava sob cuidados médicos na casa da filha, Keiko, no bairro de San Borja, em Lima, com quem foi morar após deixar a prisão. Familiares do ex-presidente foram à casa de Keiko após a confirmação do seu falecimento.
Apesar de muito doente, Alberto Fujimori se filiou, em junho, ao partido Força Popular para concorrer às eleições para a presidência de 2026. Depois inúmeras internações, a mais recente em 4 de setembro, Fujimori foi perguntado se os planos para presidente ainda estariam de pé, sorrindo, ele respondeu: “Vamos ver, vamos ver.”
O ex-presidente enfrentava um câncer de língua, teve câncer no pulmão, confirmado em 2018, quebrou a bacia em junho de 2024. Além disso, era cardiopata e hipertenso.
Quem foi Alberto Fujimori
Nascido em 1938, em Lima, Alberto Fujimori era filhos de pais japoneses. Em 1974, casou-se com a nipo-peruana Susana Higuchi, com quem teve dois filhos Keiko, e um filho, Kenji. Os dois seguiram a carreira do pai.
Em 1990, Fujimori foi eleito presidente do Peru, mesmo sendo um candidato desconhecido. A sua bandeira “Cambio 90” teve um forte apelo popular, derrotando no segundo turno o escritor consagrado Mario Vargas Llosa.
A crise no seu governo veio com apenas dois anos de mandato, por falta de apoio no Legislativo, fato que o velou a aplicar um autogolpe, em 5 de abril de 1992. Com a cartada, ele dissolveu o Congresso, neutralizou opositores, interveio no Judiciário, concentrou poder e liderou o Peru debaixo de um regime de exceção amplamente apoiado pela população, 80% dos peruanos confiavam em Fujimori, que era também chancelado pelas Forças Armadas.
Em 2000, Alberto Fujimori renunciou à presidência peruano por meio de um fax e fugiu para o exterior. Durante anos, o sistema judicial peruano tentou fazer com que ele pagasse pelos seus casos pendentes, sem sucesso. Como tinha dupla nacionalidade, foi viver no Japão. Em 2005, Fujimori foi detido ao visitar o Chile, sendo extraditado em 2007, quando foi preso.
Em 2009, o ex-presidente foi condenado a 25 anos de prisão por violações aos direitos humanos durante o seu governo, tornando-se o primeiro ex-presidente latinoamericano a ser julgado e condenado em seu país de origem por crimes contra a humanidade.
Sob o seu comando o esquadrão da morte conhecido como Grupo Colina cometeu dois massacres: em 1991, no bairro Barrios Altos, em Lima; e segundo, no seguinte, na Universidad de la Cantuta, também na capital.
Na primeira ação, os agentes do Serviço de Inteligência do Exército peruano, encarregados de execuções extrajudiciais, abriram fogo contra a multidão, após confundirem as pessoas com membros do grupo guerrilheiro maoísta Sendero Luminoso. O massacre deixou 15 mortos e quatro feridos.
No ano seguinte, membros do Grupo Colina sequestraram e mataram nove estudantes e um professor da Universidad de la Cantuta, onde entraram e executaram as vítimas, carbonizando os corpos cujos restos mortais foram enterrando nos arredores da capital peruana.
Alberto Fujimori também foi condenado pelos sequestros do jornalista Gustavo Gorriti e do empresário Samuel Dyer, ambos em 1992. Ele foi condenado ainda por um escândalo de corrupção, que envolveu espionagem, suborno e compras ilegais.
Sem levar em consideração as atrocidades cometidas por Fujimori durante os seus anos de governo, os seus apoiadores destacam o êxito da sua política econômica contra a hiperinflação que destruía o Peru, após ser eleito. A vitória sobre a guerrilha maoísta Sendero Luminoso, também é ressaltada por eles.
Patricia Lima