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quarta-feira, 22 jan, 2025

Luiz Cezar Fernandes: Indústria moderna menos impostos

Luiz Cezar
Divulgação

Com a potencial aprovação da Reforma Fiscal em um horizonte próximo, o grande dilema da indústria nacional passará a ser a necessidade de atualização de seu obsoleto maquinário (além da já crônica escassez de capital de giro nas mãos do setor). Senão vejamos: o Brasil montou os seus grandes parques industriais no início do século passado, acompanhando o marco da segunda revolução industrial, mas foi apenas nas décadas de 60/70 que realmente passou a inv

estir na modernização do setor. Infelizmente, por lá parou. Desde então, não houve avanço relevante na atualização da estrutura industrial. Passamos a viver do canibalismo com pouquíssimas e isoladas inovações.

O sucesso da nossa indústria depende da substituição desse maquinário quase sexagenário. Só assim para entrarmos no competitivo mercado do século XXI. Veja-se o caso da China. Com investimentos incessantes por décadas, aprofundados ainda na gestão do Deng Xiaoping, a sua indústria tem, hoje, cinco vezes o tamanho da brasileira.

Por essas e outras, o BNDES, a meu ver, está em mora com a sociedade. Já era hora de ter criado uma linha de crédito direcionada exclusivamente à modernização e desenvolvimento dos nossos parques industriais. Durante a década de 70, relembre-se, fora reservado ao Banco um papel vital no processo de equipamento industrial.

Se há uma tendência do atual governo ao desenvolvimentismo, por que não a direcionar para o campo da indústria? O setor privado bancário também poderia fazer parte dessa nova transição. Parte das reservas internacionais poderia ser utilizada para equipar a indústria, financiando a aquisição de bens de última geração no exterior. O momento ajuda. Como os países desenvolvidos estão flertando com um processo de contração da economia ou até recessão, não faltarão fornecedores para nos abastecer.

Fora o cenário global propenso, não acho que a reserva de mercado da indústria brasileira deva ser considerada para capitanear essa transição, porque, obviamente, não está equipada para tanto. Isso não significa que o empresariado brasileiro deva se ressentir e aguardar os movimentos governamentais. Sem união, não há renovação. É preciso agregar interesses dentro de um só discurso. A história continua a nos mostrar a força política da opinião popular. É dever nosso, como cidadãos, assessorar nessa modernização.

Além do avanço tecnológico, é preciso olhar também para o estratégico – engessado por igual período. Por incrível que pareça, ainda vejo muitas empresas apegadas ao modelo secular de Henry Ford. Devemos nos voltar para metodologias mais eficientes, tais quais as células de produção.

Para não buscar o lugar comum, vamos nos ater a um exemplo nacional: as igrejas evangélicas. Sim, igrejas evangélicas se estruturam da mesma forma que empresas e se multiplicam a partir de um modelo de células que tira inspiração dos apóstolos de Jesus. Foi justamente a multiplicação das células industriais dentro de templos espirituais que permitiram às igrejas evangélicas abrirem, em média, 17 novos templos por dia durante o ano de 2019, vide levantamento do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da USP.

Esse modelo poderia ser aplicado às células industriais para expansão rápida. Às favas com a linha de produção, um maquinário inteligente centralizado dentro de uma planta, atuando por função, tal como uma célula de produção, é muito mais eficiente.

Enquanto a sociedade civil não pressionar por essa mudança, enquanto não houver articulação política, a indústria nacional continuará o seu alongado processo de canibalismo de suas antigas estruturas. Perde o Brasil ao se recolher a um papel para o qual nunca esteve destinado; o de insignificância competitiva frente aos países desenvolvidos.

* Luiz Cezar Fernandes é financista, co-fundador de bancos como o Garantia e o Pactual. É uma das principais referências do Mercado Financeiro e de Capitais brasileiro.

 

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