“ JAYME PERIARD está impecável no monólogo “ A QUEBRA “, trazendo à tona um tema de extrema relevância: abusos sexuais contra vulneráveis praticados por membros da Igreja Católica, utilizando o lúdico para ecoar as vozes das vítimas e colocar em xeque a tendência de abafar os crimes sexuais a fim de proteger as Instituições “ (Rose Scalco – jornalista e advogada)
“ A vítima se culpa e o silêncio protege o criminoso. Ela é traída em sua confiança por quem deveria lhe dar proteção e, no caso de figuras religiosas, a traição é dupla já que o abusador está sob o manto da divindade, sendo ainda mais cruel com quem é vulnerável e indefeso e, tudo isso deixa a história ainda mais inverossímil para ser relatada. Espetáculo essencial! Bravo! “ (Rose Scalco)
Por Rose Scalco*
JAYME PERIARD, em sua trajetória de 40 anos de carreira, traz inúmeros sucessos em novelas e minisséries, passando por várias emissoras de TV: Globo, Record, Bandeirantes, SBT e pela extinta Rede Manchete.
Os personagens marcantes permeiam até hoje a mente do público, como o “Tito” de “A gata comeu” (Globo, 1985), “ Avelino” de “Dona Beija” (Manchete, 1986), o “Miguel” de “Roda de fogo” (Globo, 1986), “João Antonio” de “Brega & Chique” (Globo, 1987), “Mandala” (Globo, 1987), “Jonas” de “Guerra dos Sexos”, o “Garcez” de “ Salve Jorge”, entre outros.
Jayme sempre foi porta-voz de temas relevantes e que devem ser abordados para reflexão da Sociedade como foi o personagem “Leo”, da minissérie “ O Portador “ em que foi protagonista, em 1991, sendo o primeiro programa de teledramaturgia da televisão brasileira que abordou o HIV, na Rede Globo.
O ator, reconhecido por sua versatilidade em seus personagens, sempre foi muito mais do que o galã icônico dos anos 80, pois aprendeu a arte de interpretar com os grandes mestres. Entre eles, José Wilker, Mona Lazar e Denise Stoklos. Os personagens foram de mocinho a psicopata, como foi o caso em 2017, quando deu vida a “Nicanor”, de “Apocalipse”, e em 2018, a “Daniel – o “Dudinha” da serie “Mecanismo”, além de importantes trabalhos no Cinema e no Teatro. Também desenvolveu com maestria as carreiras de Produtor e Diretor.
Jayme dedica estes 40 anos a todos os profissionais que passaram em sua vida, não só aos grandes diretores e atores com quem contracenou e aprendeu mas, também, com todos os técnicos, produtores, figurinistas, iluminadores, cenógrafos, maquiadores, que fazem parte desse universo fascinante de ‘contar histórias’.
E, nesse clima de comemoração pelos seus 40 anos de carreira, Jayme escolheu estar no palco e está impecável no monólogo “A QUEBRA” , trazendo a serenidade em sua voz, como lhe é peculiar , sendo instrumento para colocar em pauta, pela primeira vez, no teatro, um tema de extrema relevância que faz com que o espetáculo seja essencial: os abusos sexuais sofridos por crianças e adolescentes por membros da Igreja Católica.
A peça é baseada em casos reais e de concepção do próprio Jayme, como também a direção. Tem a fantástica e renomada Regiana Antonini como dramaturga e produção de Valéria Macedo e Keila Chimite e uma equipe incrível onde todos envidam esforços para traduzir a essência e a reflexão sobre esta questão que pertence a todos nós.
Nesse monólogo, Jayme se reveza nos 4 personagens: o Jornalista, o Cardeal, o Padre e a Vítima. A história se desenvolve tendo o personagem do jornalista em que ao realizar uma pesquisa com adolescentes para uma reportagem, descobre uma rede de abusos sexuais em Instituições Católicas. Sua denúncia revela os sacerdotes abusadores, aqueles que os protegem e nos apresenta o relato sensível e sincero de uma das vítimas.
O texto traz o olhar diferenciado de cada personagem sobre o tema: a necessidade do “Cardeal” de preservar a Instituição; a indignação e a luta do “jornalista” em investigar e expor os crimes praticados pelos Membros da Igreja; a mente transtornada do criminoso; e, por fim, a dor e a sensação de alma aniquilada da vítima em seu relato emocionante.
O espetáculo não é contra a Igreja Católica e, sim, uma reflexão sobre esta crueldade, ecoando as vozes das vítimas, através do lúdico, para o despertar contra uma tendência que ainda impera, principalmente, no Brasil: de abafar os crimes sexuais, como se o fato de ignorá-los fizessem com que eles deixassem de existir a fim de proteger as Instituições Religiosas.
Serve ainda como um verdadeiro alerta aos pais e às escolas, para que percebam os sinais nas crianças e adolescentes, uma vez que as vítimas se sentem culpadas e não verbalizam ao que foram submetidas, principalmente por tratar-se de pessoas acima de qualquer suspeita e, no caso, em tese, deveriam representar a divindade na terra.
Serviço
O espetáculo teve sua estreia dia 4 de setembro, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, localizado à rua Marquês de São Vicente, 52, zona sul do Rio de Janeiro, com apresentações todas as segundas-feiras e terças-feiras, às 20h.
A temporada vai até 26 de setembro e ingressos podem ser adquiridos online no Divertix.
Ficha Técnica
Dramaturgia: Regiana Antonini
Com Jayme Periard
Gênero: monólogo
Direção musical: Altay Veloso
Design de luz: Paulo Cesar Medeiros
Design de som: Afonso Celso Batistela
Produção: Arte Conteúdo – Valéria Macedo e Keila Chimite
Concepção e direção: Jayme Periard
*Rose Scalco é atriz, jornalista, advogada e como apresentadora entrevista artistas no UNIVERSO DA ARTE
Confira outros artigos da editoria OPINIÃO clicando aqui.