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quinta-feira, 13 fev, 2025

OPINIÃO

Italo Godinho: ‘Morre, não morre’

Italo
'¡No va a bajar!'. A frase proferida pelo técnico argentino Ramon Diaz tornou-se um amuleto na luta contra o rebaixamento - Reprodução / @vascodagama

 

Por Italo Godinho*

 

Já disse em segredo que não falaria mais de Vasco. O jogo de quarta, porém, obrigou-me a escrever. E como meus artigos só vão a público às segundas-feiras, ganhei tempo para registrar parte do que vi na última rodada do melhor Campeonato Brasileiro em anos.

Foi assim: o Vasco — desesperado — recebeu o Red Bull Bragantino. O confronto se desenrolou em São Januário perante 20 mil vascaínos que no auge do esforço transpiravam bagas de agonia.

O jogo, conforme os leitores o sabem, foi de cansar o miocárdio. Basta lembrar para sofrer, motivo pelo qual resumirei o é da coisa: como não houvesse chance de gol, o técnico Ramón Díaz fez as devidas substituições. Uma delas foi colocar Paulinho no lugar de Marlon Gomes, que deixou o gramado com dores no joelho esquerdo. De fato, há males que vêm para o bem, pois foi o atacante entrar para o Vasco acordar do fatigante aperto.

Aos 28 minutos do 1.º tempo, Paulinho interceptou um passe no setor defensivo, próximo ao círculo central, e foi carregando, carregando, carregando até que um zagueiro teve peito de enfrentá-lo. Coragem inútil porque o camisa 18 cortou bruscamente para a direita e, com a perna boa, deu na bola com raiva. Ela desviou noutro marcador, enganado o goleiro Cleiton.

Vasco 1×0 Bragantino.

Era folia em terra e mar. O alívio, entretanto, durou pouco. Sob pressão adversária, o Vasco tornou a errar. E no 2.º tempo, foi castigado pela indolência. Ao trabalhar pelos corredores laterais, o time do interior paulista achou um gol.

Vasco 1×1 Bragantino.

Confesso-lhes que neste quarto de hora fui tomado por um sombrio desespero — parte do qual provocado pelo Bahia, que fez canja de galo mineiro na Arena Fonte Nova. Se o Tricolor de Aço vencia, o Club da Cruz de Malta teria de vencer também. Outra partida fácil se tornava dramática.

Então aconteceu o seguinte: Dimitri Payet foi substituído por Serginho, que só convertera um gol em oito jogos. Sem atinar para estatísticas, o ponta-direita, em arranco triunfal, ocasionou a expulsão de Realpe. O cartão vermelho, tal qual remédio milagroso, baixou instantaneamente a febre vascaína, encorajando o povo.

Sintonizei, portanto, na Rádio Transamérica para captar a narração frenética de Bruno Cantarelli, de quem ouvi o seguinte às 23h21min: “Faz um gol, Vasco, pelo amor de Deus!”

Ora, isto não é locução, senão uma súplica que ninguém haveria de negar.

O ato de benevolência desabrochou com Paulo Henrique, cujo lateral recebeu uma bola curta após tramar na zona contrária. Sem vacilar, invadiu, fulminante, a grande área e no vai-não-vai derrotou o marcador com um drible a sangue frio, colocando assim a bola na cabeça de Serginho. Foi um cruzamento perfeito que nada exigiu do atacante. Sequer foi preciso saltar para executar o maravilhoso cabeceio. Era o gol redentor, era a vitória.

Vasco 2x1Bragantino.

Súbito, milhões comemoravam o milagre. Com reza braba e sacrifício, jogadores e torcida — que juntos formaram um todo indivisível — venceram esta bela partida de futebol. Em toda a cidade, ouviam-se gritos de folga e protestos de fé. Era o Vasco, outra vez, deslumbrante. Quanto a mim, eis a verdade, amigos: neste instante, estava sentado no meio-fio para chorar lágrimas de esguicho. Depois restou brindar em copo quebrado.

Imagino, agora, a frustração dos vermes que não terão mais carne morta para roer. O time que foi considerado moribundo segue vivo em posição de luta! E hoje seu nome está em todas as bocas.

 

*Italo Godinho é Bacharel metido a cronista (embora nunca tenha escrito nada) e carioca praticante. Sempre que possível, garimpa memórias escarafunchando as ruas da Cidade. Entre paróquias, bibliotecas e salas de aula, gasta o tempo que não tem.

 

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