Danielle Damasceno afirma: “dentro do desenvolvimento infantil, não se pode estar muito atrasado. Se isso ocorrer, é um sinal de alerta.”
A escritora e fonoaudióloga Danielle Damasceno, que está à frente da clínica Na Mesma Roda, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, deu entrevista exclusiva para a Tribuna da Imprensa em torno de como identificar se o seu filho tem atraso no desenvolvimento infantil e, em caso positivo, como isso pode ser tratado desde a idade mais precoce. Nesse bate-papo, ela também falou os principais transtornos que podem ser diagnosticados, bem como a atitude que deve ser tomada pelos pais em relação a isso.
Danielle comanda o espaço multidisciplinar, que oferece terapias para crianças e adolescentes com variados tipos de transtornos, incluindo questões do atraso do desenvolvimento infantil. São terapias como fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia, terapia ocupacional, avaliação neuropsicológica e estimulação precoce de bebês, além do suporte para os pais. É um local integrado com profissionais capacitados que tem a supervisão de Danielle, mestre em Fonoaudiologia, especializada em Integração Sensorial e autora do livro “O autismo entre nós”, da Editora Reflexão.
Como avaliar que o seu filho apresenta atraso no desenvolvimento infantil? O que deve ser observado?
Quando a criança está em idade escolar, é comum que os professores sinalizem quando a fala está muito aquém do esperado para a sua idade dentro do grupo. Mas, se a criança não está nessa idade e não frequenta uma creche, é importante que os pais tenham um olhar de comparação. Não é competir, mas comparar o desenvolvimento do seu filho com outras crianças do convívio dele e da mesma idade. Dentro do desenvolvimento infantil, não se pode estar muito atrasado. Se isso ocorrer, é um sinal de alerta.
Um dos principais sinais de atraso é quando a criança demora a falar. Quais os sinais de atraso na fala e quando precisa de atenção especializada?
Quando uma criança demora a falar, é muito comum os pais falarem que é assim mesmo, citando exemplos de pessoas conhecidas que demoraram a falar também. Sempre vai ter alguém que vai dizer para os pais esperarem. Acontece que a linguagem é base para outras aprendizagens. Portanto, é muito importante que a linguagem esteja adequada para a idade, bem como ao nível de desenvolvimento, com o intuito de que as outras aprendizagens também não acabem se prejudicando. Ou seja, é importante observar como seu filho está em relação aos outros da mesma faixa etária. Por volta do primeiro ano de idade, a criança precisa estar falando as primeiras palavrinhas, e com dois anos precisa estar falando frases.
Precisa esperar a criança ter quantos anos para se iniciar um tratamento de fonoaudiologia?
A fonoaudiologia é uma profissão que tem atuação desde o recém-nascido até o idoso. Não existe uma data para se iniciar. A especialidade atua até em bebês prematuros, por exemplo, ou bebês que nasceram com uma alteração em alguma função de degustação, respiração ou qualquer função oral que precise de cuidados, como sucção, respiração, degustação, mesmo nos prematuros, ou bebês que têm alguma dificuldade para mamar, ou na coordenação da respiração com a mamada. Depois vem a necessidade de se alimentar, quando existe alguma dificuldade para engolir, a fonoaudiologia atua também junto a essas necessidades. A criança vai crescendo, quando existe alguma dificuldade para aprender a falar, atuando também nas dificuldades de leitura e escrita. Então, não existe uma fase para esperar para começar. O que precisa é procurar o profissional correto para cada área, pois existem profissionais especializados para cada necessidade de atuação profissional.
Identificado o atraso, quais transtornos podem estar ligados a ele e como a terapia precoce pode ajudar?
Falando especificamente sobre atraso de linguagem, quando a gente identifica que existe, tem que entender por que aconteceu esse atraso. Existe uma necessidade de investigar e ao mesmo tempo tratar, mesmo sem a gente saber o motivo desse atraso. Quando começamos o tratamento logo, a intervenção precoce muda o prognóstico e o futuro da criança, principalmente nas dificuldades de leitura escrita e na alfabetização. Às vezes a criança tem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, um diagnóstico que só dos 4 aos 6 anos é fechado. Só Pode ser que a criança tenha uma síndrome que vá acometer a comunicação, ou autismo. Existem múltiplas situações que podem estar ligadas também a fatores pré-natais, quando, por exemplo, a criança já nasce com alguma síndrome, ou com alguma condição que impossibilite ou atrase a comunicação.
Quais os principais transtornos que estão ligados a esse atraso da fala? E quais acontecem mais em crianças e em adolescentes? Explique.
Um atraso mais comum é o TDL, Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem, que prejudica a comunicação. Também tem a apraxia de fala. Outros transtornos motores de fala, em que a gente tem alteração na fonética e fonológica, são, os mais comuns. Quando a criança cresce, trata-se mais dos distúrbios de leitura escrita, aprendizagem, e dislexia. A gagueira também. Esses são os que trabalhamos muito em crianças e adolescentes.
Quando é necessário o acompanhamento de uma equipe multiprofissional de saúde e como deve ser feito o diagnóstico para definir qual tipo de transtorno?
Quando a criança está em idade escolar, é comum que os professores sinalizem quando a criança está muito aquém do esperado para a sua idade dentro do grupo. Mas, se não está nessa idade, nem frequenta creche, é importante que os pais tenham um olhar de comparação. É claro que cada criança tem seu tempo, mas é importante observar que esse tempo tem um limite. Dentro do desenvolvimento infantil, a gente não pode estar muito atrasado.
Quais são essas especialidades e como o trabalho em conjunto contribui para promover o desenvolvimento infantil?
O desenvolvimento infantil depende de muitas habilidades. Um profissional completo olha o paciente como um todo, em que tudo precisa estar funcionando como uma orquestra. Então, esse trabalho, às vezes, precisa ser realizado para ter o maior ganho em sua própria área, com cada profissional fazendo sua parte.
No caso do Transtorno do Espectro Autista, como as terapias, principalmente a fonoaudiologia, podem ajudar?
O terapeuta vai trabalhar as habilidades que estão em prejuízo, dando as ferramentas para que o paciente consiga se comunicar. No caso da fonoaudiologia, ter uma comunicação mais eficiente para que ele consiga manter relações sociais com muito mais conforto e prazer, o objetivo de qualquer trabalho terapêutico de fonoaudiologia especificamente.
Muito tem se falado sobre a inclusão de crianças com atraso no desenvolvimento infantil nas escolas. Inclusive, é lei que todas tenham direito a mediador nas escolas. O que tem a dizer sobre isso?
A inclusão, infelizmente, em muitas escolas, em muitas realidades, ainda é uma utopia. É lei que todas as crianças estejam na escola e todas precisam ter um profissional qualificado para trabalhar as suas dificuldades, mas não é essa a realidade. Isso depende de uma série de fatores. Vindo do governo, é necessário que esses profissionais estejam dentro das escolas sejam qualificados, com oferta de treinamento constante para eles.
Na rede particular, é preciso entender também que é um custo de aula e não existe incentivo nenhum por parte deles. Para que essas escolas tenham este profissional, é necessário qualificar todos.
Todos precisam estar preparados para a inclusão, mas infelizmente não é o que eu vejo na prática. Vejo escolas com salas de recursos lindas, maravilhosas, mas sem nenhum profissional qualificado para conseguir utilizar aqueles materiais maravilhosos que tem nas salas de recursos.
Uma outra coisa que acontece também é a necessidade de se ter um laudo. Dentro da escola, não é necessário um laudo para entender, para observar que aquele aluno precisa de uma ajuda a mais, mas às vezes isso é muito burocrático. Além disso, ao perceber que a criança tem dificuldade, então é só começar a adaptar tudo e ter uma mediadora. Mas, vendo pela perspectiva da escola, realmente é algo difícil, pois colocar mais profissionais qualificados é uma conta que não fecha, a verdade é essa!
10 – Por fim, como a família pode ajudar nos cuidados de uma criança que tem transtorno e qual o apoio que precisam para lidar com essa questão?
Acho que essa é a pergunta mais difícil, porque não é somente a família que tem que ajudar. A sociedade precisa, como rede, proporcionar isso. A família faz o que pode e, assim, precisa de suporte da escola, dos terapeutas, pois ela está inserida em todos os contextos sociais que a criança transita. Então, a família precisa de apoio e ferramentas. E quem vai dar essas ferramentas? A escola, os terapeutas, as pessoas que estão ali à volta dessa família. Quanto mais integrada a família está, mais mergulhada nas dificuldades, tem mais capacidade e habilidade para ajudar. Então, todos precisam trabalhar em conjunto.
Serviço:
Na mesma Roda: Av. Ruy Frazão Soares, 191, sala 202 – Barra da Tijuca
Instagram: danidamascenofono e @namesmaroda
WhatsApp: 21 982762588