AfD cresce e pode ser o primeiro partido de direita a vencer eleições desde 1945. Cenário político na Alemanha está acirrado
O Alternativa para a Alemanha (AfD) pode se tornar o primeiro partido de extrema-direita a vencer uma eleição regional no país desde a Segunda Guerra Mundial, segundo pesquisas de boca de urna divulgadas neste domingo, 1 de setembro. As projeções, que foram feitas com base em contagens iniciais de votos e encomendadas pela emissora pública ARD, mostraram o AfD bem à frente, com 32,8%, no Estado da Turíngia, e 30,8% na Saxônia — um ponto percentual atrás dos Democratas Cristãos (CDU) de centro-direita. Já uma segunda previsão da emissora ZDF mostrou uma corrida ainda mais apertada na Saxônia. “Este é um sucesso histórico para nós,” comemorou Alice Weidel, colíder nacional do AfD.
Já Omid Nouripour, líder dos Verdes, um dos partidos do governo nacional, alertou: “um partido abertamente extremista de direita se tornou a força mais forte em um parlamento estadual pela primeira vez desde 1949, e isso causa preocupação e medo muito profundos em muitas pessoas.”
Em ambos os Estados no leste da Alemanha — que se tornou um reduto da extrema direita — outros partidos se recusaram a cooperar com a AfD, o que significa que é improvável que a legenda faça parte de quaisquer novos governos estaduais. No entanto, a vitória na Turíngia, em particular, seria vista como altamente simbólica.
Considerada uma organização extremista pela inteligência doméstica em três Estados alemães, e sob investigação pelas autoridades nacionais por islamofobia e suas posições radicalmente anti-migratórias, a AfD conseguiu superar tabus profundamente enraizados sobre a política nacionalista. No entanto, o novo partido Aliança Sahra Wagenknecht, ou BSW, partido populista pró-Rússia da extrema-esquerda, conquistou até 16% dos votos na Turíngia e 12% na Saxônia, adicionando outro nível de complicação ao cenário político alemão.
O secretário-geral nacional do União Democrata Cristã (CDU), Carsten Linnemann, disse que seu partido manterá sua recusa de longa data em trabalhar com a extrema-direita. “Os eleitores de ambos os Estados sabiam que não formaríamos uma coalizão com a AfD, e assim será — somos muito claros nisso,” disse. Weidel, colíder nacional da AfD, denunciou isso como “pura ignorância” e disse que “os eleitores querem que a AfD participe de um governo.”
O profundo descontentamento com um governo nacional notório por brigas internas, o sentimento anti-imigração e o ceticismo em relação à ajuda militar alemã para a Ucrânia estão entre os fatores que contribuíram para o apoio a partidos populistas na região, que é menos próspera que o oeste da Alemanha.
A AfD é mais forte no leste, anteriormente comunista, e a agência de inteligência doméstica tem os ramos do partido, tanto na Saxônia quanto na Turíngia, sob vigilância oficial, como grupos “extremistas de direita comprovados.”
Seu líder na Turíngia, Björn Höcke, foi condenado por usar conscientemente um slogan nazista em eventos políticos, mas está recorrendo. Os social-democratas de centro-esquerda de Scholz estavam pelo menos a caminho de permanecer nas duas legislaturas estaduais, mas os Verdes ambientalistas pareciam prontos para perder seus assentos na Turíngia.
Os dois partidos eram os parceiros de coalizão nos dois governos estaduais anteriores. O terceiro partido no governo nacional, os Democratas Livres pró-negócios, também deverão perder seus assentos na Turíngia. Ele não tinha representação na Saxônia.
Uma terceira eleição estadual está marcada para 22 de setembro em outro Estado do leste: Brandemburgo, atualmente liderado pelo partido de Scholz. Já a próxima eleição nacional da Alemanha está prevista para pouco mais de um ano.
O Partido de Esquerda, do governador cessante Bodo Ramelow, que liderou um governo minoritário, caiu na insignificância eleitoral em nível nacional. As projeções mostraram que ele perdeu quase dois terços de seu apoio em comparação com cinco anos atrás, recuando para cerca de 12%. Enquanto isso, Sahra Wagenknecht, por muito tempo uma de suas figuras mais conhecidas, saiu no ano passado para formar seu próprio partido, que agora está superando o desempenho da esquerda.
Wagenknecht comemorou o que chamou de sucesso sem precedentes para um novo partido, enfatizou sua recusa em trabalhar com Höcke, da AfD, e disse que espera formar “um bom governo” com a CDU. A CDU há muito tempo se recusa a trabalhar com o Partido de Esquerda, descendente dos comunistas governantes da Alemanha Oriental.
Ela não descartou a possibilidade de trabalhar com o BSW de Wagenknecht – que provavelmente será necessário para formar qualquer governo sem o AfD, pelo menos na Turíngia. O BSW também é mais forte no leste. O AfD tem se aproveitado do sentimento anti-imigração na região.
O ataque com faca em 23 de agosto na cidade ocidental de Solingen, no qual um extremista da Síria é acusado de matar três pessoas, ajudou a empurrar a questão de volta ao topo da agenda política da Alemanha e levou o governo de Scholz a anunciar novas restrições e medidas para facilitar deportações. O BSW de Wagenknecht combina política econômica de esquerda com uma agenda cética em relação à imigração. O CDU também aumentou a pressão sobre o governo nacional por uma postura mais dura em relação aos imigrantes.
A postura da Alemanha em relação à guerra da Rússia na Ucrânia também é uma questão sensível no leste. Berlim é o segundo maior fornecedor de armas para a Ucrânia depois dos Estados Unidos; ambas as entregas de armas são algo que tanto a AfD quanto o BSW se opõem. Wagenknecht também criticou uma decisão recente do governo alemão e dos EUA de iniciar implantações de mísseis de longo alcance
na Alemanha em 2026.
Com informações da AP