A aparência calma e o sorriso fácil do advogado e golfista Leandro Apolinário fazem jus à gentileza e a cordialidade com que ele recebeu a reportagem da TRIBUNA DA IMPRENSA no paradisíaco Itanhangá Golfe Clube para falar sobre o seu assunto preferido. Não, esta não será uma entrevista sobre Direito. Leandro é o presidente da Federação Estadual de Golfe. Entretanto, se há uma denominação que supere o cargo, é perfeitamente possível dizer que é um realizador e promotor do esporte pelo qual se apaixonou há 15 anos.
Em uma tarde de abril, presenteados por um visual estonteante, o dirigente e jogador, entre outros assuntos, falou da origem de sua paixão, do envolvimento com o lado diretivo, suas realizações desde a época em que era vice-presidente e fez uma previsão otimista para a continuidade do desenvolvimento do esporte.
CONFIRA OS PRINCIPAIS TRECHOS DA ENTREVISTA
QUEM É LEANDRO APOLINÁRIO
Sou advogado, formado em 1998 e advogo desde 1994, primeiro ano da faculdade. O golfe começou na minha vida há 15 anos quando eu casei e fui morar em um condomínio na barra e lá tinha um campinho.
Eu passava por lá para jogar tênis, olhava…e aí conheci o Luiz Carlos Pinto, um dos maiores jogadores de golfe que o Brasil já teve. Chamado de Pelé do golfe. Tem uma estátua que coloquei aqui no Itanhangá Golfe Clube. É um dos legados que deixei. Ele representou um Brasil em cerca de 60 países.
Negro, pobre. Sofia todo tipo de preconceito e sabotagem. Mesmo assim, venceu. No meio do golfe é uma referência. Começou a conversar, bater umas bolas, acabei virando golfista.
HISTÓRIA COM O GOLFE
Começou lá no Golden Green (condomínio em que Leandro mora, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro) e não parou mais.
Aliás, há uma curiosidade nisso. Chamam as esposas de jogadores de ‘viúvas do golfe’. São quatro horas de jogo, depois o pós-jogo, bate papo e isso é o que mais demora. A gente chama de Buraco 19 porque o campo tem 18 buracos. No começo ela se sentiu abandonada, Tinha uma raiva enorme do golfe. Ela diz que era uma fuga minha porque tinha criança pequena em casa (risos).
Os primeiros anos foram muito intensos. Eu queria viajar para todo lugar, jogar todos os torneios. O jogo tem quatro horas e o tempo de jogar, bater na bola, dá uns 10 minutos. O resto é conversa com quem está jogando. Você cria irmãos. Meus maiores amigos hoje, além dos da adolescência e de escola, são golfistas.
No golfe o seu adversário é o campo. Você tem que vencer o campo. Esse é o seu desafio. Jogar abaixo do par do campo ou do seu handicap. Então quem joga com você é seu amigo. O golfe revela o caráter. Se você quiser roubar é muito fácil. Quem rouba uma hora é pego e excluído.
O COMEÇO COMO DIRIGENTE
Eu não tinha a menor intenção de ocupar qualquer cargo diretivo. Mas como me envolvi muito com o esporte, comecei a organizar torneios e naturalmente passei a exercer alguma liderança. Mas sem qualquer objetivo maior. Era uma coisa de o pessoal dividir as funções. Um compra o troféu, outro paga o chopp, etc.
Depois me tornei sócio aqui do Itanhangá, comecei a jogar aqui. Em 2018 virei diretor jurídico da Federação Estadual de Golfe. Esse foi o primeiro cargo. Acabei me envolvendo em outras questões. No Itanhangá me chamaram para ser conselheiro, que é uma função muito chata (risos). Aí um vice-presidente me indicou para ser vice da Federação. Há uma alternância entre Itanhangá e Gávea para indicar presidente e vice da Federação. À época era a vez de o Itanhangá indicar o vice.
Acabei, de fato, exercendo a presidência, porque o presidente viajava, tinha seus compromissos profissionais. Naturalmente fui conduzido a ser o presidente nesta gestão, que começou em 2022.
RIO KIDS GOLF TOUR
Desde que assumi a vice-presidência, quis implementar o Rio Kids Golf Tour, torneio infanto-juvenil. Ia muito jogar o Brasil Kids com a minha filha Isabella e quis trazer o torneio também para o âmbito estadual. É um sucesso há cinco anos. A gente forma jogador. É o único jeito de renovar o esporte, que é taxado como elitista e de velho. Então se os pais e avós não trouxerem os filhos e netos para jogar, o esporte acaba.
E para o jovem é importante a coisa de estar competindo, ganhar troféu, medalha. Isso os incentiva a querer ir aos torneios, viajar. Motiva mais treinos e formação de novos jogadores. Gente com talento e alto rendimento.
Um exemplo é o Paco Casini tem 15 ou 16 anos e hoje disputa o topo do ranking nacional. O start foi aqui no Rio Kids.
MAIS REALIZAÇÕES
Objeto social da Federação é divulgação do esporte, realização de torneios e desenvolvimento do esporte. São esses três alicerces que o sustentam. Fazemos 11 torneios oficiais, além de sete etapas do Rio Kids Golfe tour.
Organizo junto com o Circuito Master as competições fora da cidade. É o torneio Sênior e Pré-Sênior, acima dos 40 anos. Os semi-velhos (risos), os mais experientes. Isso ajuda os pais a levarem os filhos.
A principal competição é o Aberto do Rio de Janeiro. Torneio grande que envolve os melhores jogadores. Neste ano vai ser no Itanhangá. Já convidei o Rodrigo Lombardi para ser o nome do troféu e ele aceitou. Será uma grande ferramenta para alavancar.
AS CELEBRIDADES
A história de chamar as celebridades veio assim. Objetivo de sair um pouco dessa bolha. Há muitas pessoas famosas que adoram jogar golfe. Comecei a convidar essas pessoas para darem nome às taças. Tadeu Schmidt, Giovane Gávio, Marcos Pasquim, Tita, Germán Cano. Pessoas apaixonadas pelo esporte que cedem seu nome, recebem homenagem e fazem o esporte estar em evidência. Essa idéia partiu da minha cabeça.
Criei também um canal no Youtube, chamado TV Golfe Rio. A cada torneio tem um programa com 10 a 15 minutos de duração mostrando como foi. As pessoas tem curiosidade para ver as celebridades jogando e acabam enxergando o que eu quero, que é o esporte.
RESULTADOS
O número ‘frio’ e objetivo que eu tenho é que quando comecei na Federação em 2019 tinham 930 golfistas filiados e hoje são 1.180. Não foi só por minha causa. Até a pandemia, curiosamente, ajudou. É jogado em um lugar aberto, não tem contato físico. Ajudava a fugir da pandemia e a se distrair.
GOLFE FEMININO
Outro fator importante é o crescimento do golfe feminino. A minha esposa, que detestava, hoje é jogadora, ganhou alguns troféus. Todas as quintas vem jogar.
A capitã de golfe, Jane, começou com esse torneio às quintas e sempre há um almoço, música ao vivo. Aí ela teve a idéia de convidar também as não golfistas a participar da confraternização. Isso gerou curiosidade e as fez querer jogar.
LADO SOCIAL
Golfe tem essa pecha de ser de elite. E acaba sendo. Não é barato. Isso cria um paradigma, as pessoas pensam ‘isso não é para mim’. Eu mesmo tinha esse bloqueio. Só fui jogar porque no lugar que fui morar tinha um campo e ainda assim demorei a vencer essa barreira e levei tempo para me arriscar a jogar.
Mas existem projetos sociais. Em Japeri, na Baixada Fluminense, há um campo de golfe e um projeto social que atende cerca de 100 crianças. Oferece inclusão na sociedade através do golfe. As tira de outras distrações. Elas participam do Rio Kids, a Federação obviamente arca com os custos. Eles fazem seletiva interna e isso gera motivação aos meninos para jogar no Itanhangá e em Teresópolis.
No Projeto “Cuca Legal”, que é mais amplo, em Angra dos Reis, há a divisão ‘tacada de ouro”, crianças da comunidade do Frade que recebem instrução, jogam no campo e também viajam para jogar no Rio Kids.
Assim o golfe quebra paradigma e ajuda a se livrarem do que poderia ser um caminho para o crime. Aos 18 anos, se o menino não virar jogador de golfe, aprendeu a ser cadding, a cuidar de equipamento, do campo. Enfim, tem um caminho a seguir.
O Breno Domingos, menino de Japeri, é um destaque. Está bem colocado, jogou o aberto brasileiro no Campo Olímpico, foi um dos poucos classificados diretamente.
LEGADO
Espero que seja sim. Já plantei, reguei e começou a nascer. Tem que fazer muita ‘m…’ para deixar morrer (risos). O mais difícil é sair da inércia.
Deixei um sistema pronto para ser replicado o que deu certo.
Criei também a Seleção Carioca. Os jogadores que se destacam mais são convocados para participar de um treino aqui no clube toda quarta-feira, ministrada por um profissional do golfe. O Daniel Ishi, que foi número 1 do Brasil.
O golfe é um esporte individual, mas o sentimento de equipe é lega, é bacana. Fortalece o indivíduo. Ter um suporte, saber que há gente torcendo por você. A palavra Seleção já diz que é a escolha dos melhores.
Espero que o próximo faça melhor do que eu. Não tenho a vaidade de dizer que serei o melhor pra sempre. Quero que o esporte siga seu caminho de evolução.