Por Italo Godinho*
Há poucos dias a UEFA publicou sua lista de melhores jogadores da Europa. Entre os indicados, Haaland, De Bruyne e Messi — vencedor do prêmio inaugural em 2011 — são os finalistas que disputam o cobiçado laurel. Não irei me ater ao favorito nem à ordem da relação. Vou mesmo é cornetar, como fazem os marmanjos barbados que se ocupam de futebol. Todavia meus protestos agora são justos, cabidos, desapaixonados, pois Vinícius Júnior ficou além da 11.ª colocação do Jogador do Ano da UEFA.
Sim, minha gente, um desalmado qualquer viu mais qualidade e mérito em Declan Rice ou em Mac Allister, que virou o ano pelo “todo-poderoso” Brighton & Hove, do que no ponta-esquerda carioca. Pergunto-me como e não encontro resposta satisfatória.
Se minhas contas não falham, o brasileiro, na última temporada, anotou 23 tentos e ofereceu 21 assistências a gol em 55 jogos pelo Real Madrid. Vinícius também fez maravilhosa dupla com Benzema no escrete merengue, além de ostentar uma ruma de outros índices que o favorecem no páreo. Tudo quanto inútil, visto que raramente opções do tipo cedem aos escrúpulos da razão. Neste campo, dominam as melindrosas preferências subjetivas, como em concursos de beleza.
Não quero parecer gabola, mas verdade seja dita: este assunto é quase irrelevante. Serve, isto sim, à moçada que nas disputas do pátio resolve bazófias de maneira ligeira:
— E quantas bolas de ouro o Messi tem?
— Azar! CR7 é o “Mister Champions League”, mané.
Já para nós, os mais velhos (não propriamente em idade, mas em disposição física), essa coisa não leva a canto algum, quero dizer, as preferências se mantém alheias a números e premiações. No balcão do Bode Cheiroso ou na mesinha do Bracarense, a peleja continua — e cada vez mais renhida, já que deitaram pimenta no molho. Ontem mesmo, na Cobal, teimamos numa porção de coisas sem base. Houve até quem preferisse Del Piero a Ronaldo Fenômeno, seu rival nos tempos de glória da Serie A.
— Nem se multiplicado! Está possesso ou o quê? Limite, por favor, limite! — ufei de peito empinado.
— Só pode ser o chope. — outro amigo, mais judicioso, emendou.
— Ou problema moral. — conclui sob risos compartilhados.
Essa gente é enervante. Que Deus perdoe meus “cobotecanos” e com bom olho os veja. Até porque o Brasil é um país essencialmente ludopédico, não esqueçamos.
Quer saber? Pior ainda são os verdugos da UEFA que deixaram Vini Jr. fora do círculo dos melhores da Europa. Diacho é isso?! Vai ver é o apelido: “Malvadeza”. Além de nós, quem vota em nome assim? Se houvesse um “van” ou um “th” no sobrenome, quem sabe. Vai ver é o preconceito… Nunca saberemos.
E pensar que o certame é decidido exclusivamente por jornalistas esportivos. Fiasco sem perdão! Como disse Nelson Rodrigues, “No futebol, o pior cego é aquele que só enxerga a bola.”
*Italo Godinho é Bacharel metido a cronista (embora nunca tenha escrito nada) e carioca praticante. Sempre que possível, garimpa memórias escarafunchando as ruas da Cidade. Entre paróquias, bibliotecas e salas de aula, gasta o tempo que não tem.
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