Por Claudio Fernandes
Quem deixa a cidade do Rio de Janeiro rumo ao noroeste fluminense normalmente tem como destino as cidades de Macaé, Campos e Itaperuna. Polos comerciais e industriais da região tem seus nomes mais cravados na memória e no cotidiano dos habitantes do estado e dos vizinhos São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.
Entretanto, a localidade mais distante da capital do Rio, ainda dentro do estado, vai muito bem, obrigado. Trata-se de Varre-Sai. Com pouco menos de 10 mil habitantes, a cidade é a maior produtora de café da região e avança a olhos vistos tanto na urbanização quanto no comércio. O turismo, como pode ser visto neste artigo, também ganhou destaque nos últimos anos.
Para saber mais sobre a cidade, os projetos e tentar entender porque mais de 90% da população apoia sua administração, a TRIBUNA DA IMPRENSA entrevistou com exclusividade o prefeito Doutor Silvestre (PP). Aos 91 anos, ele entregará seu terceiro mandato no fim de 2024 (os dois últimos de forma consecutiva). No bate-papo, ele analisou suas administrações, enumerou feitos, disse o que lamenta não ter conseguido fazer e falou até do futuro.
Confira os principais trechos da conversa
A experiência como vantagem
Estar no cargo de prefeito de Varre-Sai sempre foi muito fácil para mim. Eu nasci aqui, só saí da cidade para estudar (cursou medicina na UFF, formado na turma de 1961). E trabalhei sempre aqui. Convivi com os problemas todos, como hospital, colégio e tudo o mais. Sabendo, assistindo e participando.
Comparativo entre as gestões em que esteve à frente
No retorno em 2018, nessa posse agora, foi muito mais tranquilo. O prefeito anterior (Everaldo Ferreira) deixou o município equilibrado, com muitas obras iniciadas, um bom relacionamento com o governador.
No primeiro mandato eu tive dificuldades. Herdei um município com muitas dívidas. Os funcionários, inclusive, estavam há cinco meses sem receber salários. Foi difícil. Até pagar tudo, conseguir equilibrar tudo levei praticamente dois anos de gestão.
Desta vez estamos caminhando melhor. Estamos no segundo mandato consecutivo e com diversas obras extraordinárias. Obra do Hospital, obra do Horto Florestal, também terminei a construção do estádio de futebol, que antes era aqui onde hoje está a prefeitura.
O prefeito anterior resolveu transferir para fazer em outro local para construir esse prédio, Curiosamente, eu mesmo fui contra, mas depois vi que era o melhor a ser feito.
Em parceria público-privada está sendo construído um laboratório pela PESAGRO. Lá será possível fazer tudo sobre café. Tudo mesmo. Terreno, adubo, planta, muda. Método de plantio, de colheita, tudo. Vai atender aqui, outras localidades e inclusive outros estados. O pessoal do Espírito Santo (Varre-Sai faz fronteira com cidades capixabas).
O último ano de mandato
Primeiro preciso dizer que o que eu quero fazer é uma coisa. O que posso, é outra (risos). O que eu posso dizer é que praticamente tudo o que idealizei, conseguirei entregas. Mas há uma falta grave, gravíssima. Não consegui resolver a questão do saneamento em algumas áreas da cidade. Temos o Ribeirão aqui, que é um esgoto a céu aberto. Isso aí eu vou ficar devendo. É uma obra cara, mas essencial na cidade.
Mas outra coisa importante que consegui fazer foi o Desvio para tirar o trânsito de veículos pesados de dentro da cidade. Está em fase final essa obra, só faltando mesmo o asfaltamento. É um problema grave em algumas das nossas cidades vizinhas. Ônibus, carretas. Aqui isso não vai acontecer mais. Aqui estamos corrigindo um erro de 50 anos. À época o comércio não quis. Alegou que comprometeria o movimento do local. Carreta e caminhão pesado? Os motoristas passam e não tomam sequer um café na cidade.
Varre-Sai tem uma zona rural imensa, rica e linda com os cafezais. Na época de colheita de café, que vai de maio a setembro, os trabalhadores da cidade vão para esta atividade. Ganham quatro salários mínimos por mês.
Vinte e cinco por cento da área de Varre-Sai é plantada em café. Eu quero chegar a pelo menos 40 por cento. O ideal seria 100%. Plantar até no jardim da prefeitura (risos). O que pretendo fazer no horto é um milhão de mudas de café em um ano. E vender pela metade do preço de mercado. O negócio é plantar. Hoje temos 250 mil mudas plantadas por ano. Quero aumentar para um milhão.
O hospital é uma obra extraordinária. Parte nova, segundo andar. Passo todos os dias de manhã no hospital, há sessenta anos faço isso. Vai dar condições de a população ser melhor atendida. Conseguiremos fazer, ao mesmo tempo, três cesarianas. E teremos estrutura para outras cirurgias, inclusive.
Conselho ao sucessor e a quem deseja ingressar na política
Participar de tudo no que se relacionar à política. Em algo ele vai sobressair. E o meu sucessor espero que seja alguém bem intencionado. Infelizmente nem todos que ingressam e estão na política são bem intencionados. O politico tem que se meter no que ele entende. Delegar.
Estou falando com a Tribuna da Imprensa. Então cito o Carlos Lacerda, que era um grande jornalista. Teve um sucesso enorme como deputado, mas não sabia nada de governo, do executivo. O que ele fez? Montou um secretariado que é bem falado e reconhecido até os dias de hoje. Deixou a equipe trabalhar. Não é difícil não.
Legado e…futuro
Tenho a minha satisfação própria de ter 90 por cento de aprovação. Não se vê isso em lugar algum. O que todos falam sobre mim é a respeito da seriedade, honestidade e a competência da administração. É o que se destaca. Tem que fazer coisa que seja útil para o município. Não adianta eu aqui em Varre-Sai querer fazer túnel. É mais importante o hospital, claro. Estamos, inclusive, com problema sério de pessoas de outras cidades virem para cá para receber atendimento. As pessoas mudam o título eleitoral para serem atendidas aqui. Não vamos deixar de atender, principalmente as emergências.
Meu futuro político é fácil. Vou descansar mais 20 anos e depois voltar.
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