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domingo, 6 out, 2024

Turismo

Pesquisa revela o que os Jogos Olímpicos de Paris podem ensinar para a Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2027

Confira pesquisa que avaliou os Jogos Olímpicos de Paris sob o ponto de vista do turismo e servem como base para eventos esportivos futuros. FOTO: Reprodução

Em 2027, o Brasil sediará a Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino. Por isso, entender a percepção de residentes e turistas sobre os Jogos Olímpicos que acabaram de acontecer em Paris pode somar não só para o Brasil, mas para as próximas edições dos Jogos e, também, para todos os outros megaeventos esportivos que estão por vir.

 

O último megaevento no Brasil  aconteceu em 2016, quando os Jogos Olímpicos de Verão ocorreram no Rio de Janeiro, e o seu legado foi visto como positivo para a cidade em termos de infraestrutura,  serviços, transportes, meio ambiente, educação e esportes. No entanto, a edição seguinte, Tokyo 2020, foi adiada para 2021, por conta dos efeitos da pandemia de COVID-19 e,  em 2024, foi a vez de Paris. 

 

Partindo da experiência brasileira, um grupo de pesquisadoras da Unigranrio e da Unirio viu nos Jogos Olímpicos a oportunidade de dar continuidade aos estudos relacionados aos megaeventos esportivos e decidiu coletar dados sobre os Jogos em Paris. 

 

O estudo analisou a percepção dos residentes de Paris, turistas domésticos e internacionais sobre os impactos do megaevento na cidade, além da experiência de vivenciar a cidade e as competições. A investigação foi realizada por meio de coleta de dados face a face durante o período de realização do megaevento, tendo início em 5 de agosto e finalizado em 11 de agosto, data do encerramento oficial dos Jogos. Ao todo, foram coletados 318 dados em pontos específicos da cidade de Paris que mais sofreram intervenções e que receberam as competições dos Jogos. A quantidade de entrevistados permitiu um nível de confiança de 95%, com margem de erro de 5,5%. 

 

A grande maioria dos respondentes, 84,7% de turistas e residentes que participaram da pesquisa, acredita que foi uma boa oportunidade para Paris sediar o megaevento. Dentre os entrevistados, 75,5% estavam participando dos Jogos Olímpicos pela primeira vez. 

 

Segundo os respondentes, Paris é uma cidade lindíssima e tem capacidade de organizar bem os Jogos, atraindo mais europeus de países vizinhos a participarem do megaevento, sendo também uma oportunidade de melhorar a estrutura esportiva da cidade. Além disso, muitos acreditam que sediar os Jogos é bom para a imagem da cidade, para o reconhecimento internacional do destino, sendo também uma ótima ocasião para estimular a integração entre as culturas e a diversidade.

 

Os Jogos representam um momento de união e valorizam o patrimônio histórico e a cultura, assim como o esporte. Ainda que a maior parte esteja relacionada aos aspectos positivos, alguns respondentes chamaram atenção para o preço ser muito caro, inclusive dos ingressos. E alguns também evidenciaram a questão ecológica e social. A segurança é um aspecto que divide opiniões e afeta a imagem de Paris de diferentes formas, tanto para residentes quanto para turistas. Em geral, 34,5% dos respondentes acreditam que a segurança afeta a imagem da cidade de forma positiva, para 39,1% de forma negativa e 26,2% não sabem avaliar. 

 

Percepção dos residentes sobre o megaevento e os impactos percebidos

 

Para 44,6% dos respondentes que residem em Paris, os Jogos Olímpicos geraram algum tipo de impacto na região onde habitam. Dentre os principais impactos percebidos, destacam-se: fechamento de algumas ruas, maior número de pessoas utilizando transporte público, mais atividades relacionadas aos esportes, aumento do número de turistas, transporte público mais eficaz e maior número de eventos. Ao serem questionados sobre os impactos dos Jogos na rotina, os mais citados foram: aumento do trabalho em home office, mudanças de tráfego urbano e piora no trânsito da cidade. Para a maioria dos respondentes, (91,7%), os Jogos promoveram a atividade turística em Paris, enquanto 81,3% acreditam que os Jogos geraram novos postos de trabalho e, para 87,7%, foram percebidas melhorias de longo prazo para o esporte. Por outro lado, para 87,7% houve aumento dos preços na cidade.

 

Já para 68,3% dos turistas que responderam à pesquisa, os Jogos Olímpicos foram a maior motivação para visita à cidade. Do total de turistas respondentes, 72,2% aproveitaram a viagem para realizar atividades turísticas em Paris, e 44,1% aproveitaram para visitar outros destinos no país, como Lyon, Normandia, Lille, Bordeaux, Disney, e países europeus, como Alemanha, Áustria, Croácia, Suíça, Holanda, Bélgica, República Checa, entre outros. Vale ressaltar que 21,4% visitaram a França pela primeira vez ao participar dos Jogos Olímpicos, sendo que para 16% esta foi a primeira visita a Paris. Um número de 76,3% fez pernoite em Paris e utilizou como principal meio de hospedagem: casa de amigos e parentes (39,6%), hotel (37,4%) e Airbnb (16,5%). O principal meio de transporte utilizado para chegar a Paris foi o trem (41,9%), seguido do avião (29,9%) e carro próprio (12,0%). A grande maioria fez a viagem nos seguintes modelos: acompanhado de familiares (24,6%), sozinho (23,7%), especificamente casais sem filhos (20,3%), amigos (16,9%) e casais com filhos (8,5%). 

 

De forma geral, os turistas avaliaram muito bem os serviços na cidade, em especial em relação às opções de atividades de lazer, informações turísticas e aeroportos. A limpeza da cidade e as opções de hospedagem também foram bem avaliadas. O maior nível de satisfação em Paris (entre bom e muito bom) foi relacionado a opções de recreação e turismo (92,2%), informações turísticas (88,9%), aeroportos (85,5%), serviço e hospitalidade (84,9%), seguido de acomodação (72%) e limpeza (71,1%). Os dados apontam que os locais de competição e o acesso a eles foram muito bem avaliados pelos turistas, já os preços e a qualidade dos alimentos ofertados, nem tanto. 

 

Sugestões para eventos futuros

 

A partir da pesquisa realizada, sugere-se que sejam feitas melhorias em diferentes frentes. Atenção especial à segurança, tanto aos turistas quanto aos residentes. Mobilidade e integração são requisitos básicos para uma experiência completa. E, mais do que isso, eficiência na comunicação, pois muitas são as mudanças de trânsito e rotina, antes, durante e após o megaevento.

 

Sugere-se, ainda, que se ofereçam alimentos de melhor qualidade e a um preço mais acessível nos estádios. “Este é um tópico que precisamos olhar com mais cuidado. Além do preço, a qualidade. Afinal, um evento esportivo remete à  saúde. 

 

Vale ressaltar que a expectativa da FIFA é que a Copa do Mundo Feminina de 2027 envolva o maior número de seleções na história, e neste sentido, há de se pensar na atuação das mulheres dentro e fora dos campos. Uma ótima oportunidade para se trabalhar os objetivos de desenvolvimento sustentável proposto pela Agenda 2030. Até porque a pauta de inclusão e diversidade merece ir muito além dos gramados. Antes, durante e após o evento. Afinal, 2027 já está logo ali!

 

A pesquisa foi realizada pelo Núcleo de Pesquisa em Turismo da Unigranrio, composto pelas pesquisadoras Paola Lohmann e Kaarina Virkki, em parceria com o Grupo Turismo e Geograficidades da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), liderado pelas professoras Maria Jaqueline Elicher, Bruna Conti, Joice Lavandoski, além da colaboração da pesquisadora que realizou a coleta de dados na França, Maria Vitória Alentejano, e do estatístico Marco Bouzada, da Unigranrio.