A principal notícia da semana ficou por conta do pronunciamento feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que anunciou a ampliação da faixa para isenção no Imposto de Renda (IR), que alcançará quem ganha até R$ 5 mil. O limite atual isento de IR está em R$ 2.259. No entanto, o governo adotou, no início do ano, um mecanismo de “desconto simplificado” que dá isenção para quem ganha até dois salários mínimos (R$ 2.824).
Além disso, foram anunciadas outras medidas que deixaram o mercado em alerta: a instauração de uma idade mínima para a reserva e a limitação de transferência de pensões dos militares, e o cálculo do abono salarial, cujo benefício será progressivamente baixado para quem ganha um salário mínimo e meio — hoje, ele vale para quem recebe até dois salários mínimos.
Com isso, o dólar se manteve em ascensão a semana toda, fechando a R$ 6 e, pelo 3º dia seguido, renovou o recorde de maior valor nominal. A moeda acumulou alta de 3,21% na semana e de 3,79% no mês. No ano, a valorização é de 23,66%.
Preocupados com as medidas sobre o novo corte de gastos, que deve gerar uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, os presidentes da Câmara, Artur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, ajudaram a atenuar o nervosismo entre os investidores. Ambos deixaram claro que a prioridade no Congresso será votar as propostas para cortar gastos. Por isso, as discussões sobre mudanças no IR ficarão para depois.
Por outro lado, o mercado se tranquilizou com a indicação do novo nome para assumir a diretoria de Política Monetária do Banco Central a partir de janeiro, feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O cargo, que antes era de Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, ficará sob a responsabilidade do economista Nilton David, head trader do banco Bradesco. O nome de David já circulava no mercado antes da indicação ser confirmada, sendo bem recebida entre os profissionais do setor. Com 52 anos de idade, ele está no Bradesco há cinco anos e já ocupou a função de managing director no Morgan Stanley, tendo passado por grandes instituições estrangeiras como Citi e Barclays. Para as outras duas vagas na diretoria, que serão abertas até o final do ano, foram indicados os servidores de carreira do BC Gilneu Vivan (diretoria de Regulação) e Izabela Correa (diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta). Eles substituirão respectivamente Otavio Damaso e Carolina Barros, também servidores de carreira do banco. Os nomes ainda terão que ser submetidos à apreciação do Senado após sabatina dos indicados na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
Além do cenário fiscal, investidores também reagiram aos dados de emprego divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desemprego caiu a 6,2% no trimestre terminado em outubro, no menor patamar da série histórica do indicador, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua. É a menor taxa de desocupação de toda a série histórica, iniciada em 2012. Antes disso, o percentual mais baixo de desempregados no país havia sido registrado em dezembro de 2013 (6,3%). Ao todo, 6,8 milhões de pessoas estão sem emprego no país, o menor contingente desde o trimestre encerrado em dezembro de 2014. Foi um recuo de 8% em relação ao trimestre anterior, e de 17,2% na comparação com 2023.
Enquanto isso, as contas do setor público consolidado apresentaram um superávit primário de R$ 36,9 bilhões em outubro, informou o Banco Central. O superávit primário acontece quando as receitas com impostos ficam acima das despesas, desconsiderando os juros da dívida pública. Em caso contrário, há déficit. O resultado engloba o governo federal, os estados, municípios e as empresas estatais, representando melhora frente ao mesmo mês do ano passado, quando foi registrado um saldo positivo de R$ 14,8 bilhões. Também é o maior valor para meses de outubro desde 2016, quando houve um superávit de R$ 39,6 bilhões.
A polêmica envolvendo as relações comerciais entre Brasil e França, após falas do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, em relação à carne sul-americana, informando que a sede francesa do Carrefour não compraria carne proveniente dos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) como forma de pressionar a União Europeia a não formalizar um acordo de livre-comércio com o bloco sul-americano, ganhou um novo capítulo. Desta vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou pela primeira vez sobre o caso, em que foi questionada pelo executivo a qualidade da carne da América do Sul, defendendo a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que se arrasta há décadas. “Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva num deputado francês que, hoje, achincalhou os produtos brasileiros. Porque nós vamos fazer o acordo do Mercosul nem tanto pela questão do dinheiro. Nós vamos fazer porque eu estou há 22 anos nisso e nós vamos fazer”, declarou Lula.
Ele disse, ainda que “se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada, quem apita é a Comissão Europeia. Eu pretendo assinar o acordo ainda esse ano. Tirar isso da minha pauta”, afirmou o presidente.
Por fim, uma boa notícia para a economia nacional. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que a bandeira tarifária será verde em dezembro, ou seja, sem taxa extra na conta de luz. Segundo a agência, a bandeira verde foi acionada por causa da “expressiva melhora” das condições de geração de energia, com as chuvas. Neste mês de novembro, a bandeira em vigor é a amarela, com cobrança adicional de R$ 1,88 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Com a bandeira verde em dezembro, esse valor deixa de ser cobrado na conta de luz.
“Nas últimas semanas, o período chuvoso mais intenso favoreceu a geração de energia hidrelétrica, com custo de geração inferior ao de fontes termelétricas – acionada mais frequentemente quando os níveis dos reservatórios estão baixos”, explicou a agência em nota.
Dezembro será o primeiro mês sem cobrança adicional na conta desde agosto, quando a Aneel anunciou a transição de bandeira verde para vermelha patamar 1 – uma das mais caras no sistema de cores da agência.
Nos Estados Unidos, o presidente eleito, Donald Trump, prometeu no começo desta semana impor grandes tarifas aos três maiores parceiros comerciais do país – Canadá, México e China – detalhando como implementará as promessas de campanha que podem desencadear guerras comerciais.
Trump, que assume o cargo em 20 de janeiro de 2025, disse que imporá uma tarifa de 25% sobre as importações de Canadá e México até que eles reprimam a entrada de drogas, especialmente o fentanil, e de imigrantes ilegais nos EUA, em uma medida que parece violar um acordo de livre comércio entre os três países.
Trump também delineou separadamente “uma tarifa adicional de 10%, acima de qualquer tarifa adicional” sobre as importações da China. Não ficou totalmente claro o que isso significará para o país asiático, pois ele já havia prometido aplicar tarifas superiores a 60% sobre as importações chinesas – muito mais altas do que as impostas durante seu primeiro mandato.
As duas publicações na plataforma Truth Social de Trump representam alguns dos comentários mais específicos sobre como ele implementará sua agenda econômica desde que venceu a eleição de 5 de novembro com a promessa de “colocar a América em primeiro lugar”.
“Em 20 de janeiro, como uma de minhas muitas primeiras ordens executivas, assinarei todos os documentos necessários para cobrar do México e do Canadá uma tarifa de 25% sobre TODOS os produtos que entram nos Estados Unidos e suas ridículas fronteiras abertas”, disse Trump.
Os EUA foram o destino de mais de 83% das exportações do México em 2023 e 75% das exportações canadenses.