A semana foi intensa em relação à economia, tanto no Brasil quanto no mundo. Por aqui, notícias sobre o corte de gastos, dólar em alta e desemprego em queda movimentaram o setor. Já a onda “Trumpmania”, que rendeu alta histórica do Bitcoin, deixou os investidores em polvorosa. Leia!
Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, escolheu o investidor Scott Bessent como seu secretário do Tesouro. Investidor de fundos hedge, ele lecionou por vários anos na Universidade de Yale. Segundo o comunicado divulgado em sua rede social, Trump disse: “estou muito satisfeito em nomear Scott Bessent para servir como 79º secretário do Tesouro dos Estados Unidos”, afirmou o presidente na Truth Social. Ele completou: “Scott é amplamente respeitado como um dos principais investidores internacionais e estrategistas geopolíticos e econômicos do mundo.”
No entanto, a escolha ainda precisa ser ratificada pelo Senado. Bessent também tem defendido reformas fiscais e desregulamentação, particularmente para estimular mais empréstimos bancários e a produção de energia.
O mercado segue satisfeito diante da escolha de Trump para comandar a Casa Branca, principalmente porque o bilionário sinalizou as expectativas dos investidores de maior crescimento, menor volatilidade e inflação, além de uma economia revitalizada para todos os americanos. Com isso, o mercado de criptoativos disparou. O bitcoin, criptomoeda mais famosa do mundo, superou a cotação de US$ 90 mil (equivalente a R$ 520 mil) pela primeira vez na história. Esse e outros avanços fizeram a soma de ativos criptos disponíveis no mercado ultrapassar o marco de US$ 3,2 trilhões(R$ 18 trilhões) — cenário que tornou magnatas do setor ainda mais ricos. Segundo um levantamento da revista norte-americana Forbes, 11 dos maiores bilionários criptos do mundo enriqueceram um total de US$ 38 bilhões (quase R$ 220 bilhões) em 2024. Destes, US$ 24 bilhões (ou 63% do total) vieram após 1º setembro, quando cresceram as apostas na vitória de Trump.
Já na Argentina, a atividade econômica do país recuou 3,3% em setembro em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país. O resultado veio pior do que o previsto por analistas, que estimavam uma redução de 2,7%. Esse foi o quarto mês consecutivo de contração anual da atividade econômica do país. Segundo o Indec, 11 setores registraram quedas na comparação anual. O destaque negativo ficou com o setor de pesca, que recuou 25,2%. Os principais responsáveis pela retração do índice, no entanto, foram os segmentos de construção (-16,6%); comércio atacadista, varejista e reparos (-8,3%); e Indústria manufatureira (-6,2%).
No Brasil, a equipe econômica fechou o valor da contenção de gastos para garantir o cumprimento da meta fiscal de 2024. O valor é de R$6 bilhões de bloqueio em verbas do Orçamento Geral da União deste ano. O novo bloqueio foi informado ao Congresso na noite desta sexta-feira, 22 de novembro. Ou seja, ao somá-lo com bloqueios de outros bimestres, o valor total bloqueado até agora no ano é de R$ 19,3 bilhões. Diante dessa ação, o governo acredita que fechará o ano perto do piso da banda da meta fiscal, que é de déficit zero, mas com uma tolerância de 0,25 ponto percentual para cima ou baixo. Um dos principais fatores que levaram à necessidade de bloqueio foi o aumento de R$ 7 bilhões em gastos previdenciários. Ainda no documento enviado ao Congresso, o governo passou a estimativa de déficit neste ano de R$ 28,7 bilhões – ainda dentro do intervalo da meta (que pode chegar a déficit de R$ 28,8 bilhões). E mais: na próxima semana a equipe econômica vai fechar com o presidente Lula as medidas fiscais para reforçar o arcabouço fiscal.
Outra notícia de destaque foi que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, solicitou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o repasse de R$1,3 bilhão do bônus de Itaipu para reduzir as contas de luz. A informação consta em ofício, no qual Silveira diz que o recurso “pode ser destinado à modicidade tarifária dos consumidores de energia elétrica com reflexo na capacidade de pagamento das famílias e no controle da inflação”.
Isso significa que o bônus, que decorre do saldo positivo da Conta de Itaipu, pode ser repassado, por meio de crédito nas faturas de energia, aos consumidores residenciais e rurais que tiveram consumo faturado inferior a 350 quilowatts-hora (kWh) em ao menos um mês de 2023.
A deliberação sobre o bônus de Itaipu entrou na pauta da reunião de diretoria da Aneel, marcada para a próxima terça-feira, 26 de novembro. O bônus de R$ 1,3 bilhão se refere ao saldo positivo da comercialização de energia de Itaipu de 2023.
Silveira também pediu que a agência faça uma “avaliação criteriosa” para definir a bandeira tarifária nos próximos meses. O sistema de bandeiras da Aneel sinaliza as condições de geração de energia elétrica. Quando as condições estão desfavoráveis, são acionadas as bandeiras amarela, vermelha 1 ou vermelha 2, que implicam cobranças adicionais na conta de luz. Para novembro, a Aneel acionou a bandeira amarela. O anúncio sobre a bandeira tarifária de dezembro deve ocorrer na próxima sexta-feira, 29 de novembro. Para o ministro, com o início do período de chuvas, houve “melhora no nível de armazenamento dos reservatórios, em especial nas regiões Sudeste e Centro Oeste, que congregam 70% da capacidade de armazenagem de energia do país”.
A semana também teve uma polêmica: algumas das principais empresas do setor frigorífico deram início a um processo de interrupção do fornecimento de seus produtos à rede de supermercados Carrefour e demais companhias do grupo, como o Atacadão. Trata-se de uma retaliação ao boicote anunciado, na última quarta-feira, 20 de novembro, pelo CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, às carnes dos países que compõem o Mercosul.
A decisão do CEO do grupo francês foi justificada como uma espécie de ato de solidariedade ao agronegócio do país europeu, que tem se posicionado contra o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Fontes afirmaram que cerca de 30% das unidades do Carrefour no Brasil já vêm sofrendo, de alguma forma, com impactos no fornecimento de carne bovina. Também já haveria um movimento crescente entre os fornecedores de frango. Em relação à carne suína, pelo menos até este momento, não há informações sobre interrupção na entrega.
E o dólar segue fechando em alta pelo fato de os investidores seguirem repercutindo novos dados do mercado de trabalho brasileiro, além do anúncio prévio do pacote de corte de gastos para as contas públicas pela equipe econômica do governo federal. A moeda norte-americana fechou em alta de 0,05%, cotado a R$ 5,8138. Com o resultado, acumulou alta de 0,42% na semana; ganho de 0,56% no mês; alta de 19,81% no ano.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou novos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua Trimestral. Apesar da taxa de desemprego ter caído 0,5 ponto percentual no terceiro trimestre, a 6,4%, apenas sete dos 27 estados brasileiros tiveram uma queda na desocupação no mesmo período.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, teve boa alta, apoiado no avanço de Petrobras, que divulgou seu plano de investimentos até 2029 e a quantia destinada para dividendos em 2024.
Enquanto isso, a arrecadação do governo federal com impostos, contribuições e demais receitas somou R$ 247,9 bilhões em outubro deste ano, informou a Receita Federal. O resultado representa um aumento real de 9,8% na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando a arrecadação somou R$ 225,9 bilhões (valor corrigido pela inflação). Essa também foi a maior arrecadação já registrada para meses de outubro desde o início da série histórica da Receita Federal, em 1995, ou seja, em 30 anos. A arrecadação recorde ocorre depois do governo ter adotado medidas em 2023, algumas delas aprovadas no Congresso Nacional. Entre as ações tomadas no ano passado, estão: a tributação de fundos exclusivos, os “offshores”; mudanças na tributação de incentivos (subvenções) concedidos por estados; retomada da tributação de combustíveis; e retomada do voto de confiança no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). A Receita Federal informou que o desempenho da arrecadação neste ano também está relacionado com “comportamento das variáveis macroeconômicas”, ou seja, pelo crescimento da economia, que tem surpreendido positivamente os economistas.
Por fim, o Banco Central (BC) considera que não há risco relevante para a estabilidade financeira do Brasil, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) referente ao primeiro semestre. O documento afirma que “o Sistema Financeiro Nacional (SFN) permanece com capitalização e liquidez confortáveis e provisões adequadas ao nível de perdas esperadas. Além disso, os testes de estresse de capital e de liquidez demonstram a robustez do sistema bancário”, diz o documento.
O relatório também indica que o financiamento à economia real voltou a acelerar em linha com o crescimento da atividade. O BC diz, ainda, que as instituições financeiras elevaram levemente o interesse pelo risco. Para as famílias, além da reaceleração em quase todas as modalidades de crédito, houve alguma flexibilização nos critérios de contratação. Para as empresas, o ritmo de crescimento do crédito aumentou, mas os critérios de contratação não se alteraram de forma significativa.
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