Por Policial anônimo*
Nos últimos anos, as polícias civis e militares brasileiras têm enfrentado um desafio alarmante e preocupante: os altos índices de suicídio entre seus agentes. A cada semana, novos casos são registrados, revelando uma situação crítica que exige atenção urgente. Somente nas últimas duas semanas, seis policiais se suicidaram, evidenciando a gravidade do problema.
Diversos fatores contribuem para esse cenário trágico. Entre eles, destacam-se os assédios morais e até sexuais sofridos por parte dos superiores, salários defasados, congelamento de remuneração por longos períodos, escassez de recursos humanos e materiais, bem como a acumulação de estresse proveniente do trabalho diário nas forças de segurança.
O assédio moral e sexual nas polícias é um problema estrutural que afeta a integridade física e emocional dos agentes. O abuso de poder por parte de superiores hierárquicos contribui para um ambiente tóxico, minando a confiança e o bem-estar dos policiais. Essa realidade acarreta consequências graves, como o aumento dos níveis de estresse, ansiedade e depressão, que podem levar ao desespero e, em casos extremos, ao suicídio.
Questões estruturais
Outro fator que agrava a situação é a defasagem salarial enfrentada pelos agentes de segurança pública. Os baixos salários e a ausência de reajustes por longos períodos de tempo geram uma sensação de desvalorização e desmotivação entre os profissionais, que se veem obrigados a enfrentar condições adversas sem o devido reconhecimento financeiro.
Além disso, a escassez de recursos humanos e materiais também contribui para a pressão enfrentada pelos policiais. A falta de efetivo e de equipamentos adequados coloca em risco a segurança dos agentes durante o exercício de suas funções, aumentando a vulnerabilidade emocional e física dos mesmos.
Diante dessa conjuntura, é evidente a necessidade urgente de medidas concretas para reverter essa situação preocupante. É fundamental que as instituições policiais invistam em programas de prevenção e promoção da saúde mental, oferecendo suporte psicológico e acompanhamento profissional aos seus agentes. Além disso, é imprescindível a implementação de políticas de prevenção ao assédio moral e sexual, com o objetivo de criar um ambiente de trabalho saudável e respeitoso.
No que se refere aos salários, urge a valorização dos profissionais de segurança pública, com reajustes justos e regulares, a fim de reconhecer a importância de seu trabalho e garantir condições dignas de vida.
Ademais, é crucial que sejam investidos recursos na contratação de mais policiais e no fornecimento de equipamentos adequados para o desempenho eficiente das atividades policiais, garantindo a segurança tanto dos agentes quanto da população que eles servem.
A reversão desse quadro alarmante requer um esforço conjunto dos governos, das instituições policiais e da sociedade como um todo. É preciso reconhecer que a segurança pública depende de profissionais motivados, valorizados e com condições adequadas de trabalho. Somente assim será possível enfrentar os desafios e construir um ambiente mais saudável e seguro para todos.
Assim sendo, aponto abaixo algumas medidas primordiais para a mudança do quadro atual
Revisão salarial
Realizar uma revisão salarial abrangente para os policiais civis, a fim de corrigir a defasagem salarial existente. É fundamental que os salários sejam justos e condizentes com as responsabilidades e os riscos enfrentados pelos policiais. Além disso, é importante estabelecer mecanismos para garantir reajustes periódicos e adequados, de forma a evitar um novo congelamento salarial.
Melhoria das condições de trabalho
Investir na melhoria das condições de trabalho dos policiais civis, fornecendo equipamentos adequados, instalações adequadas e recursos necessários para o desempenho eficiente de suas funções. Ambientes de trabalho adequados podem contribuir para o bem-estar geral e a satisfação dos policiais.
Direitos legais e benefícios
Garantir que os policiais civis tenham direitos legais adequados, incluindo benefícios como licenças remuneradas, seguro de vida e saúde, plano de aposentadoria e assistência jurídica. É importante que os policiais tenham acesso a esses benefícios como parte de sua proteção e bem-estar.
Valorização e reconhecimento
Reconhecer e valorizar publicamente o trabalho dos policiais civis, destacando sua importância para a sociedade. Iniciativas como premiações, programas de reconhecimento e celebração de conquistas podem ajudar a melhorar a autoestima e a motivação dos policiais.
Canais de denúncia seguros
Criar canais de denúncia seguros e confidenciais, nos quais as policiais possam relatar casos de assédio moral e sexual sem medo de retaliação. Esses canais devem ser acessíveis, transparentes e independentes, garantindo que as denúncias sejam investigadas de forma imparcial e adequada.
Investigação e punição
Garantir que as denúncias de assédio sejam prontamente investigadas e que as medidas disciplinares apropriadas sejam tomadas contra os culpados. É importante que as chefias sejam responsabilizadas por seu comportamento inadequado, promovendo um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todos.
Apoio às vítimas
Oferecer apoio e assistência às vítimas de assédio, incluindo serviços de aconselhamento, suporte psicológico e orientação jurídica. É fundamental que as policiais afetadas recebam apoio durante todo o processo, desde a denúncia até a resolução do caso.
Programas de apoio psicológico
Estabelecer programas de apoio psicológico e terapia para policiais, oferecendo acompanhamento regular com profissionais treinados em questões relacionadas à saúde mental. Esses programas, aliás, devem ser confidenciais e acessíveis a todos os membros da polícia civil.
Ambiente de trabalho saudável
Criar um ambiente de trabalho saudável que promova o apoio mútuo, a camaradagem e a solidariedade entre os policiais. Incentivar a formação de grupos de apoio e a interação social positiva pode ajudar a fortalecer os laços entre os colegas e reduzir o isolamento.
Gerenciamento de carga horária e folgas
Por fim, rever as políticas de carga horária, escala de trabalho e folgas dos policiais para garantir um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal. Longas jornadas de trabalho e falta de tempo para descanso inegavelmente podem contribuir para o estresse e a exaustão, aumentando o risco de problemas de saúde mental.
*O autor deste artigo é um policial em atividade e preferiu o anonimato
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