Por Evaldo Peclat Nascimento*
O município de Silva Jardim, situado a 110 quilômetros do Rio de Janeiro, desenvolve estudos técnicos para implantar uma usina de Hidrogênio Verde e uma fábrica de adubo orgânico e biofertilizante a partir do bagaço da vegetação aquática utilizada na produção do Hidrogênio. O representante de um consórcio de empresas liderado pela “Videira Invest”, Rodrigo Rocha, visitou o município no último dia 21/12 para conhecer o potencial e as possibilidades da cidade no sentido de oferecer as condições necessárias para isso. Acompanhado do assessor da Prefeitura de Silva Jardim, Jocenildo de Andrade, ele esteve na barragem de Juturnaíba, a fim de ver o acúmulo das plantas aquáticas na área. As quais ocorrem em abundância no local e que será a matéria prima para a produção do Hidrogênio Verde.
Também esteve numa área onde poderá ser instalada uma “Escola Técnica/Laboratório Rural” para atendimento e orientação/treinamento aos produtores rurais e agropecuários do Município. A lagoa e os rios que a abastecem possuem uma média 600 hectares de vegetação aquática (gigoga, taboas, etc.) que já pode suprir uma usina de hidrogênio de pequeno ou médio porte por cerca de cinco anos. Biomassa essa que é constantemente renovável pelo grande acúmulo na embocadura da represa. As usinas de hidrogênio e a fábrica de adubo e biofertilizante deverão ser instaladas na área de uma fazenda localizada em uma das margens da Lagoa de Juturnaiba.
“Os entendimentos para a implantação com os poderes públicos municipais de Silva Jardim e o estadual também têm sido muito bons. Vamos continuar conversando e avançando neste sentido”, informa Rodrigo Rocha, entusiasmado com o potencial do município para os projetos e as possibilidades de instalação.
Depois de produzidos, o adubo e o biofertilizante serão comercializados na sede da escola técnica. Nela também há a previsão de ser instalado um“Call Center” para a comercialização de produtos utilizados na agropecuária. Também poderá abrigar um Centro de Produção e Distribuição com um viveiro e um berçário de mudas e sementes de espécies da região, as quais serão conseguidas por parcerias com produtores das mesmas. O consórcio de empresas deverá investir cerca de R$ 40 milhões na instalação da usina de hidrogênio, com capacidade de geração de quatro megawatts, incluindo-se neste orçamento a primeira fase da unidade de transformação em adubos orgânicos.
A unidade poderá ficar pronta em até um ano e meio a partir da aprovação do projeto. Pode ser feita em módulos (etapas), inclusive com financiamento estrangeiro. Todo o empreendimento deverá gerar cerca de 25 empregos diretos e 90 indiretos. O adubo e o biofertilizante vão beneficiar cerca de 350 produtores agrícolas e pecuários, aumentando o desenvolvimento desses setores no Município. E permitindo solos enriquecidos, beneficiando a produção agrícola e a criação pastoril da região, além de promover a integração com florestas da Mata Atlântica.
A partir dos estudos técnicos, o consórcio de empresas elaborará um projeto de implantação do empreendimento que será submetido à aprovação dos órgãos responsáveis pelo licenciamento. Uma usina de hidrogênio de pequeno porte tem a capacidade de produzir energia elétrica, hidrogênio e amônia verdes com previsão de geraçãode 6,1 Nm3/h (normal metro cúbico por hora de hidrogênio verde) e produção de cerca de 2 kg/h de amônia.
Tal produção, em linhas gerais estimada em 22,5 quilos (kg) de hidrogênio por hora, será direcionada ao abastecimento de veículos automotores com energia renovável através do desenvolvimento sustentável, inclusive para veículos agrícolas, assim como para as câmaras frias do Centro de Beneficiamento Colaborativo abrigado na Escola Técnica e para os produtores vinculados ao projeto, permitindo um ecossistema de produção dentro dos padrões internacionais “ESG”.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
Como a produção do hidrogênio demanda muito consumo de energia, também poderá ser criada uma unidade de produção de energia fotovoltaica (solar) com a instalação de placas no próprio espelho d’água da Lagoa de Juturnaíba. Esse poderá ser outro projeto desenvolvido a partir do incentivo proporcionado pela usina de Hidrogênio Verde, que utilizará a biomassa.
A vegetação existente na lagoa e nos rios que desembocam nela é amplamente renovável e se reproduz com facilidade rapidamente.
CONTENÇÃO DE ENCHENTES
A retirada da vegetação aquática que produz biomassa na lagoa e rios também contribuirá para a diminuição das enchentes ocorridas atualmente no centro de Silva Jardim por ocasião das grandes cheias, pois promoverá a desobstrução da própria barragem e dos rios. As inundações se agravam com o grande acúmulo de vegetação nos vertedouros d’água da represa, o qual chega a cerca de dois quilômetros dos mesmos.
Por sinal, no último dia 21/12, funcionários da empresa terceirizada “Obent” executavam o serviço de retirada da vegetação aquática que está acumulada próximo aos vertedouros e faziam a limpeza e manutenção das comportas da barragem por onde é escoado o excesso de água em casos de enchentes. O trabalho visa preparar o local para as futuras chuvas de verão que podem provocar um aumento do acúmulo do líquido na represa e o risco de inundações nas redondezas.
O QUE É HIDROGÊNIO VERDE
Já conhecido como o “combustível do futuro”, o Hidrogênio Verde é visto como peça importante para o futuro neutro em carbono. Mas sua transformação de gás em combustível demanda uma grande quantidade de energia. Portanto, é importante prestar atenção na fonte dessa energia para que o produto final seja o chamado hidrogênio verde.
Elemento mais abundante no universo, uma das formas de produzi-lo é por meio de um processo térmico. Neste caso, geralmente, o vapor reage com um combustível do tipo hidrocarboneto, produzindo hidrogênio. Os combustíveis que podem ser usados são vários, e vão do diesel a gás natural e biogás, por exemplo. Neste tipo de geração, há emissões de carbono. Segundo o Escritório de Eficiência Energética e Energia Renovável, 95% de todo o hidrogênio produzido vêm do gás natural.
Mas também é possível produzi-lo a partir da eletrólise. Neste caso, dois eletrodos (um tipo de barra de metal) ligados a uma fonte de energia são inseridos em um recipiente com água. As barras têm polaridades diferentes, ea energia que passa por elas separa o hidrogênio que está na água. Este processo demanda bastante energia, porque sua eficiência energética é decerca de 80%. O que quer dizer que, para gerar 80 quilowatts/quilo, seriam necessários 100 kWh de eletricidade. Neste tipo de produção, é possível que a emissão de carbono seja zero. Porém isso depende da fonte da eletricidade usada.
INCENTIVOS AO ECOTURISMO
Tendo como slogan “A Capital do Ecoturismo”, o município também pode auferir dividendos nesse sentido com a implantação da usina de Hidrogênio Verde. A retirada da vegetação aquática da barragem facilitará a construção de uma passagem para barcos (hidrovia) ligando Silva Jardim à localidade de Barra de São João, em Casimiro de Abreu, através do rio São João. Isso possibilitaria o desenvolvimento do projeto de ecoturismo do município, que pretende, ainda, interligar a cidade e a Região Serrana à Região dos Lagos. A Lagoa de Juturnaíba é o segundo maior espelho de água doce do estado, com cerca de 60 quilômetros de circunferência.
A instalação da usina de hidrogênio também poderá sensibilizar as autoridades para a construção da “escada de peixes” na barragem, o que, consequentemente, além de recuperar o meio ambiente e o ecossistema do local, beneficiará o ecoturismo, já que as pessoas poderão ir ao local observar a subida das espécies para a mesma durante a piracema. O que aconteceu, por exemplo, por ocasião da piracema passada. Segundo um funcionário da empresa que faz a manutenção da represa, centenas de peixes tentaram subir o rio através das comportas, sem consegui-lo. A necessária reprodução na lagoa de espécies impedidas de chegarem até ela tais como Robalo, Dourado, Tainha, Piabanha e Corvina, por exemplo, também incentivará o ecoturismo por meio da pesca esportiva.
PERFIL GEO-SÓCIO-ECONÔMICO-TURÍSTICO-POLÍTICO DE SILVA JARDIM
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA: Região da Baixada Litorânea.
CLIMA: Temperado
ALTITUDE: 35 metros acima do nível do mar
FAZ DIVISA COM: Rio Bonito, Casimiro de Abreu, Araruama, Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo
PRINCIPAIS ATVIDADES ECONÔMICAS: Agricultura, Pecuária e Ecoturismo
PONTO CULMINANTE: Pedra do Faraó, na Serra da Boa Vista, com 1.719 metros
NÚMERO DE HABITANTES: 21.352 (IBGE)
PIB PER CAPITA: R$ 27.700,00
EXTENSÃO TERRITORIAL: 938.336 Km2 (décimo do Estado)
PRINCIPAIS PONTOS TURÍSTICOS: Aldeia Velha, Bananeiras, Pirineus, Gaviões, Lagoa de Juturnaíba (rios, cachoeiras, trilhas ecológicas e observação do mico-leão-dourado)
MÉDIA DE PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA: o mês mais chuvoso é dezembro com média de 188 milímetros; o menos chuvoso é julho, com 32 milímetros
INSTITUIÇÕES: Sindicato dos Produtores Rurais, Sindicato dos Servidores Municipais, Associação Musical e Dramática Honório Coelho, Associação dos Artesãos (Associarte), Associação Mico-Leão-Dourado, Associação do Pescadores da Lagoa de Juturnaíba, Associação de Caminhantes “Anda Brasil”
CONSELHOS MUNICIPAIS: Cultura, Educação, Saúde, Meio Ambiente, Agricultura, Turismo, Menor e Adolescente, Assistência Social
AGÊNCIAS BANCÁRIAS: Banco do Brasil e Itaú
NUMERO DE VEREADORES: Nove
DATA DE CRIAÇÃO: 8 de maio de 1841
PREFEITA: Maira Branco Monteiro
*Evaldo Peclat Nascimento é Jornalista, Professor, Poeta e Conselheiro do Conselho Municipal de Cultura de Silva Jardim
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